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Que livros (não) lês?

23/11/2011

Quadro de Alexander Deineka, daqui.
Pode ser muito perturbador, mas apenas um número bastante pequeno de pessoas sabe o que eu costumo ler. O que não perfaz um grande incómodo (nem um pequeno, sequer) porque ninguém me oferece livros. O problema é que de qualquer maneira eu não saberia responder à pergunta.

Talvez seja embaraçoso não saber responder, porém temos todos de convir que a pergunta é difícil. Porque leio muita coisa. Fiquei entalada no século XIX, mas mesmo assim leio muita coisa. Pessoa metódica como sou (dizem), torna-se óbvio que tenho uma listagem dos meus livros, lidos e não lidos.

Só que eu não ando com essa listagem comigo quando me perguntam “Que livros lês?”. Tenho escritores preferidos, tenho livros preferidos (eu destes também tenho uma lista), tenho estilos preferidos e temáticas preferidas. Mas não sei definir exactamente o que leio, ninguém o sabe – ou porque lê das mais diversas coisas ou porque, como eu, é esquisitinha com o assunto.

Admito, sou muito pantafaçuda com os livros tal como o sou com a música. Posso gostar dum tema escrito por determinado autor, mas detestar esse mesmo tema se for escrito por outro autor – e isto é apenas um exemplo. Mas também existem mais exemplos: posso gostar da escrita e não da história ou posso gostar da história e não da escrita. Ainda posso nem gostar da história nem gostar da escrita ou gostar das duas coisas…

Revelei antes que ninguém me oferece livros. Provavelmente, é melhor assim (a não ser que me perguntem antes qual é o livro que desejo); e se me oferecessem livros, decerto que seriam os livros errados. Gosto de ser eu a comprar e escolher os meus livros, porque, já foi dito, sou mesmo esquisitinha com o assunto.

Adquiri o hábito de, antes de comprar o livro, pegar nele, ler a sinopse, ler as informações do escritor – caso não o conheça – e ler duas, três, ou quantas páginas me apetecer, mas sem fazer da livraria uma biblioteca. Já estou tão habituada a fazer isto, que já consigo distinguir um livro que para mim seria bom ou mau: se a sinopse já me mostra a história do livro, o livro mostra-me a maneira como a história é contada.

Toda esta conversa tem um objectivo: tal como tudo na vida, definir uma coisa pela sua negação é mais fácil, ou seja, é mais fácil alguém ficar a saber que livros leio se souber o que não aprecio ler.

E na minha existência literária aprendi que há duas coisas que não suporto ler (com o risco de, se alguém me vier com um livro desses, leva com ele na cabeça), sendo as restantes desculpáveis ou desconhecidas – é que ainda não li de tudo nesta vida. Essas duas coisas são: livros lamechas e livros escritos duma maneira demasiadamente simples.

Livros lamechas todos sabemos o que são. E eu não gosto deles porque acredito que essas histórias no mundo real (isto é, fora do papel) não existem. Eu sei perfeitamente que esses livros funcionam como um escape à realidade, só que eu prefiro fugir da minha realidade com a realidade dos outros – que por norma costuma ser bastante pior que a minha. Não me consola, não me contenta, não me faz sentir melhor (salvo raras excepções), mas faz o mesmo que os livros lamechas têm intenção de fazer: fazem-me escapulir do mundo caótico em que vivo.

Suponho também que todos estamos familiarizados com livros com uma escrita simples. São aqueles que parecem que foram escritos por miúdos de 13 ou 14 anos. Dispensam mais esclarecimentos. Não gosto destes livros porque incomoda-me saber que uma pessoa que já tem alguma experiência literária escreve de modo infantil para pessoas adultas (como me incomoda, igualmente, pensar que pessoas adultas não são capazes de digerir uma escrita mais elaborada).

Para mais, irrita-me sobremaneira estar a ler um livro que não me faça reflectir sobre o que quer que seja. Já tive ocasião de o dizer, e digo-o novamente, mas parece-me sempre que livros destes sejam escritos apenas porque sim, para vender, sem um mínimo de amor e consideração pela arte.

Vou começar a fazer uma lista negra de livros…
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