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Lamentações de alguém que não consegue esvaziar as prateleiras

04/12/2011

É um facto deveras triste, imensamente triste, este. Temos dezenas de livros para ler (de-ze-nas) e somos constantemente atacados com promoções fantásticas, descontos alucinantes e se tivermos sorte até nos dão livros (exactamente, livros grátis), num momento em que tomámos a resolução de não comprar mais livros até lermos o que não temos lido.

Eu sei que este é um problema só meu, creio, porque não conheço mais ninguém que tenha uma lista de espera de livros a serem lidos e que, ao mesmo tempo, adora uma pechincha literária. Se eu fosse menos egoísta e melhor pessoa, podia aproveitar estas pechinchas literárias e oferecer livros a amigos – mas não, compro-os para mim e ponho-os na estante a ver qual o primeiro que fica com as páginas amareladas. O primeiro a ficar amarelado é o próximo livro que lerei – é este o meu critério de selecção.

Talvez (talvez…) eu tenha um problema com livros, se bem que acho que um “problema” com livros não é realmente um “problema”, a não ser que utilize os livros como armas letais. Mas o que realmente me preocupa, para além de colocar a hipótese de um dia ficar sem dinheiro para comer e tiver de comer as páginas dos próprios livros, é o facto de arranjar tempo para ler o que está na lista de espera.

Sim, exactamente. O tempo não é propriamente o meu melhor amigo porque… enfim, se um dia tivesse 48 horas eu talvez lesse o dobro do que leio e, assim, ficava com menos livros para ler – é tudo muito lógico. Ao mesmo tempo, posso contentar-me por um dia não ter 12 horas, porque assim lia metade do que leio e etc., etc., a lógica é a mesma.

Não consigo ler muito e rápido, porque os meus olhos comunicam com o meu cérebro e este, por sua vez, ordena aos meus olhos que fiquem vermelhos e que façam com que eu tenha uma visão turva se ler em demasia, portanto suponho que mais me valia comprar roupa ou sapatos em vez de comprar mais livros – que é, de resto, o que quase toda a humanidade faz. Por outras palavras, ficava com as prateleiras vazias e com o armário cheio.

Já para não falar dos problemas que são realmente problemas. Onde pôr tantos livros? Em caixinhas? Prateleiras? Armários? Estantes? Cadeiras? Mesas? Uma vez cheguei a pôr livros no chão e o resultado não foi tão satisfatório como eu esperava. Livros no chão da minha casa funcionam como a casca de banana nos desenhos animados quando alguém persegue alguém: a queda é certeira.

Porém, o pior de tudo, a cereja em cima do bolo deste desabafo esplêndido, é mesmo o sentimento de culpa e de inferioridade. De culpa, pois acredito piamente que os livros foram escritos para serem lidos e os meus jazem nas prateleiras intactos. De inferioridade, porque creio que sou inferior a todos os outros leitores que conseguem ler dois ou três livros por semana enquanto eu apenas leio um, e fino (ou médio…).

Mentalmente, sinto-me esmagada como se todos os livros que eu tenho caíssem sobre mim se eu passeasse alegremente debaixo duma janela. São apenas muitos livros… O que me resta fazer é ajoelhar-me no chão, levantar as mãos em direcção ao céu e gritar um longo, prolongado e bastante sofrido “NÃO!”, ou ainda mesmo “PORQUÊ?!”.
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