Image Map

Polikuchka, o Enforcado, de Tolstoi

07/09/2010

"A vida seria suportável se não fosse o desgosto"

Tolstoi neste livro conta-nos a história de Polikuchka, “homem doente, tarado, e, o que era pior, de uma outra aldeia”, que acaba por se enforcar. Mas contemos a história do princípio, porque uma contextualização é sempre precisa (ou quase sempre…).

A senhora/proprietária e o feitor, Egor Mikhailovitch tentam decidir quem, de entre os subordinados, vai assentar praça. Entre as possíveis escolhas, encontram-se os Dutlov e Polikuchka, que nem uns nem outro a senhora quer recrutar. Posto isto, cabe ao mir (assembleia dos chefes de família aldeões que gerem os negócios da aldeia) decidir quem irá assentar praça, e a escolha recai sobre os Dutlov.

Enquanto isto, a senhora precisa de quem lhe vá buscar o dinheiro do jardineiro e, como praticamente não há alguém disponível, manda chamar Polikuchka, homem desonesto que já foi apanhado a roubar para comprar bebida.

Polikuchka aceita essa tarefa e sente-se orgulhoso por a senhora depositar a sua confiança em si e parte para a sua tarefa que é bem executada, apesar de lutar contra as suas tentações. Porém, durante a viagem de regresso, Polikuchka perde o dinheiro. Quando chega a casa, diz à mulher que correu tudo bem e, quando desaparece por uns momentos, a vizinha dá com ele enforcado na cave.

Esta é a parte principal da história. Muito resumidamente: o resto fala-nos sobre a algazarra que provocou este enforcamento, ao ponto de a senhora ficar doente e a mulher de Polikuchka ter ficado louca. O dinheiro é encontrado por Dutlov que o entrega à senhora, mas esta recusa-o por considerar que aquele dinheiro é maldito e permite que Dutlov fique com ele. Dutlov, incrédulo, aproveita para pagar a praça ao sobrinho que, assim, escusa de ser recrutado.

Porquê o suicídio de Polikuchka? Esta é a pergunta fundamental da obra a ser analisada. Como todos sabemos (e, se não sabemos, deveríamos saber…), Tolstoi é um escritor realista. Se é realista, o retrato fiel da sociedade e a crítica estão presentes na obra. Nesta obra, é no suicídio onde reside a crítica. Novamente, uma pequena contextualização é necessária: todos os que conheciam Polikuchka sabiam que ele era desonesto e se ele dissesse a verdade, isto é, que tinha perdido o dinheiro pelo caminho, não acreditariam nele. Daí o suicídio.

Mas onde reside a crítica? No facto de a sociedade não conseguir esquecer/perdoar os erros de alguém (esquecendo-se de que alguém pode mudar, não lhe dando a oportunidade para tal); a crítica também está presente no facto de a sociedade reprimir as pessoas. Polikuchka suicidou-se não por estar mal consigo mesmo, mas por medo do que lhe iria acontecer. Isto, agora, é assunto para filosofar e reflectir, o que não há espaço para tal aqui, até porque cabe a cada um de nós fazer essa reflexão.

Quanto à estrutura do livro, é impossível deixar de reparar na escrita de Tolstoi, que constrói optimamente a história (para não falar nas críticas implícitas à sociedade), levando-nos a pensar que Polikuchka fosse condenado dum crime que não cometeu. Para além da escrita, a linguagem é simples. O livro está dividido em 15 capítulos pequenos, facilitando, assim, a leitura.

Esta história é considerada um dos clássicos do autor.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...