*O resumo contém spoilers.
*Esta história faz parte do conjunto de
contos "Regresso de Sherlock Holmes". Na colecção da Global Notícias, é o
volume 4 (Regresso de Sherlock Holmes I).
Outra história que é curiosa e estranha. Aliás, não há caso que Holmes resolva que não é curioso e/ou estranho. Mas esta história é singular, na medida em que o caso a resolver, ao princípio, parece tal maneira insignificante que nem sabemos como Holmes o aceitou.
O caso é o seguinte: o pai da jovem Violet Smith faleceu, ficando ela e a mãe sozinhas, sendo o único parente vivo um tio que estava na África do Sul. Recebendo a notícia de que o tio tinha morrido, lêem no jornal um anúncio a procurar mãe e filha. Pensando que se tratava duma herança, a jovem dirige-se ao escritório de advogados que estava mencionado no anúncio, e lá encontra Mr. Woodley, que não lhe agrada, e Mr. Carruthers, senhor mais simpático. Em suma, os dois dizem-lhe que eram amigos do seu tio e que este queria que as suas familiares não passassem necessidades, apesar de não possuir qualquer fortuna. Assim sendo, Mr. Carruthers oferece emprego à jovem, que tinha que ensinar a sua filha a tocar piano, pagando-lhe nada mais, nada menos que 100 libras por ano.
A jovem aceita o emprego, e tem ainda a vantagem de visitar a sua mãe aos fins-de-semana. Quando Mr. Woodley passa uma semana na casa do amigo, decide fazer corte à jovem, chegando mesmo a agarrá-la e a obrigá-la a beijar-lhe (coisa que Mr. Carruthers impede). Posto isto, os senhores discutem e Mr. Carruthers fica bastante agitado.
Numa das suas habituais viagens de bicicleta até à estação, numa estrada completamente deserta, a jovem começa a ser seguida por um homem de barba preta. A jovem, naturalmente, fica incomodada, pois é seguida todas as vezes que viaja pela estrada deserta, e decide, então, pedir aconselhamento de Sherlock Holmes – que nada pode fazer a não ser dizer-lhe que o mantenha informado.
Holmes, contudo, não deixa o caso de parte e encarrega Watson de vigiar a estrada e tentar descobrir quem mora na mansão que fica lá por aqueles lados. Watson faz o que pode, mas apenas verifica o que já foi contado: que a jovem é seguida e que o homem que a segue esconde-se pelos lados da mansão. A única novidade que Watson traz da sua excursão é o facto de o dono da mansão chamar-se Williamson.
Sherlock fica desapontado, pois assim não pode descobrir nada. Nisto, recebe uma carta da sua cliente a informar-lhe que foi pedida em casamento pelo seu patrão, e que recusou o pedido por já ser noiva. Sendo assim, resolve ir ele próprio tentar descobrir indícios que o ajudem a resolver o caso.
E que meios usa para descobrir os indícios? Uma taberna, pois segundo Holmes não há sítio melhor para se saber dos mexericos da vila. O detective descobre coisas interessantes: o dono da mansão é, de facto, Williamson, que foi padre mas acabou por ser expulso, e que recebe visitas constantes de Woodley. Então, Woodley, que estivera a ouvir a conversa, depara-se com Holmes e quer saber o porquê do interrogatório. Começa uma luta – e escusado será dizer que Holmes saiu menos ferido que o outro, devido ao facto de ser perito em boxe.
Passado pouco tempo, Holmes recebe uma carta de Violet Smith a dizer que vai deixar definitivamente a casa de Mr. Carruthers, pelo constrangimento que é trabalhar lá por causa do pedido de casamento. Holmes sabe que algo de terrível está prestes a acontecer, e encaminha-se com Watson para acompanhar a rapariga até à estação.
Mas quando lá chegam, é tarde demais. Apenas encontram o homem que seguia a jovem, que revela que a seguia para a proteger de Williamson e de Woodley. Sendo assim, vão os três à procura da jovem. Quando estão no meio do arvoredo, ouvem um grito. Acabam por encontrar a jovem com um lenço na boca, Williamson e Woodley. O ex-padre estava a casar a rapariga à força com Woodley. O homem que seguia a rapariga era, afinal, Carruthers, que atirou sobre Woodley.
O caso foi este: Woodley e Carruthers estavam na África do Sul quando conheceram o tio da jovem. A verdade é que o seu tio lhe tinha deixado uma grande fortuna, então os senhores decidiram que um deles se casaria com a jovem e daria parte da fortuna a outra. A sorte calhou a Woodley, que enquanto a rapariga estivesse na casa de Carruthers, estava encarregue de lhe fazer a corte – o que não deu resultado. Entretanto, Carruthers apaixona-se pela rapariga, deixando o pacto de parte – e, receando pela jovem, começa a segui-la para protegê-la.
A história até acabou bem, já que Violet Smith casou-se com o seu noivo e herdou a fortuna que era sua de direito e os outros foram presos: Woodley e Williamson por sequestro e tentativa de estupro e Carruthers por tentar matar Woodley.
Esta história é deveras fascinante de se ler. No início, Watson revela que escolheu apresentar esta narrativa por ter o seu quê de dramaticidade, e a verdade é que daria um óptimo filme.
*Podem ler a história aqui.
*A imagem foi retirada daqui.