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Contos de Terror e Arrepios, de Bram Stoker

16/02/2011


Havia no ar aquela sensação da hora antes do amanhecer, que é tão aterradora a uma vida incerta.

Bram Stoker, escritor irlandês nascido a 8 de Novembro de 1847, ficou bastante conhecido pelas suas obras de horror/terror/fantástico, principalmente Drácula.

Neste livro, uma edição da Quidnovi (edição grátis, que no passado Verão veio com o jornal), estão presentes quatro contos: O Espectro da Morte, O Convidado de Drácula, A Casa do Juiz, A Índia. Antes de falar dos contos, creio ser importante referir que esta edição não é propriamente das melhores edições que existem, devido a algumas gralhas, erros ortográficos e palavras/expressões mal traduzidas.

O Espectro da Morte conta-nos a história duma rapariga que é a única, devido à sua inocência e bondade, a ver o gigante, destruidor do País do Pôr-do-Sol pelos seus maus costumes. É uma história muito curiosa, esta: a rapariga é dada como maluca pelos habitantes do seu país por andar com os pássaros e por ver o gigante. Naturalmente, ninguém acredita na sua palavra, a não ser um velho. Em vão, tentam avisar as pessoas da vinda do gigante. Por fim, o gigante poupa a vida à rapariga, ao contrário do que fez com a maior parte dos habitantes do país.
Os espíritos que guardavam aquele país estavam muito, muito tristes. As suas enormes asas brancas e fantasmagóricas pendiam enquanto permaneciam nos seus postos, nos Portões da Terra, à entrada do país. Eles escondiam as faces e os seus olhos enfraquecidos pelas constantes lágrimas, por isso não conseguiam ver se algo diabólico passava por eles. Tentavam alertar o povo para o mal por ele provocado, mas não podiam deixar os seus postos, e as pessoas ouviam os seus queixumes naquele período triste, e diziam:
- Escutai o suspiro da brisa, como é doce!
O Convidado de Drácula. O nome já nos diz alguma coisa: o convidado de Drácula viaja para Munique. Chegado lá, avisam-no que não pode sair naquela noite, que era Noite de Santa Valpurga. O convidado de Drácula, inglês e, assim sendo, corajoso, não ouve os conselhos que lhe são dados e decide dar uma volta. Depois de mandar o seu cocheiro embora, resolve seguir o “caminho proibido”, contra todas as recomendações que o outro lhe tinha dado. Acaba por ser encontrado no cemitério, ensanguentado e ferido mas com vida, pela polícia, a mando do maitre d’hôtel (que recebeu um telegrama de Drácula a comunicar-lhe que protegesse o inglês).
(…) há muito tempo, há centenas de anos, tinham morrido pessoas e sido enterradas nas suas sepulturas, ouvindo-se depois sons na terra e, uma vez abertas, os homens e mulheres inumados encontravam-se rosados de vida, com as bocas vermelhas de sangue. E, decididos em salvar as suas próprias vidas, os sobreviventes partiram apressadamente para outros lugares, onde os vivos viviam e os mortos permaneciam mortos e não… não qualquer outra coisa.
A Casa do Juiz conta-nos a história de um rapaz que, querendo estudar, muda-se para uma cidade sossegada, Benchurch, longe de distracções e dos amigos. Ficou numa estalagem, a única da cidade, até alugar uma casa velha que tinha pertencido a um juiz dito maléfico que tinha prazer em executar criminosos. Apesar dos inúmeros avisos que lhe deram, o jovem mudou-se para a casa do juiz, impregnada por ratos (que, segundo a minha modesta interpretação, seriam espíritos). O estudante acaba por ser encontrado, naquela mesma casa, enforcado.
- Vou-lhe dizer o que é, senhor – disse ela. – Demónios são toda a espécie e tipos de coisas – excepto demónios! Ratazanas, ratos e escaravelhos; e portas a ranger e telhas soltas, vidros partidos e gavetas empenadas, que saem quando são puxadas e então caem no meio da noite. Veja os lambris da sala! São velhos – têm cem anos! O senhor pensa que não há lá ratazanas, ratos e escaravelhos? E imagina, senhor, que não vai ver nenhum deles? Ratos são demónios, isso sim, e demónios são ratos; e não comece a pensar noutra coisa!
A Índia relata-nos uma história duma gata (reencarnação duma índia) que vinga a morte da sua cria. Em Nuremberga, um casal inglês faz-se amigo dum homem americano e, a partir daí, fazem a viagem a três. Quando chegaram à muralha do castelo, o americano decide brincar com uma gata e um gatinho atirando-lhes uma pedra do cimo da muralha. O que o americano não contava era matar o gatinho, e muito menos contava com a fúria da gata. Dentro do castelo, o americano quer ser torturado com a Virgem de Ferro (instrumento de tortura medieval) e suborna um guarda para tal, sendo a função deste ir fechando a porta lentamente para o americano não ser morto. Acontece que a gata chega ao local e atira-se à cara do guarda, tendo este deixado a corda que segurava a porta e, assim sendo, a porta ao fechar mata o americano, assistindo-se a um espectáculo de sangue. A gata acaba por ser morta pelo inglês.
Mas a pedra caiu, com um ruído surdo e nauseabundo que se propagou através do ar quente até nós lá em cima, plenamente em cheio na cabeça do gato, espalhando o seu pequeno crânio por todos os lados. A gata negra lançou um olhar rápido na nossa direcção e vimos os seus olhos, como um fogo esverdeado, fixarem por um instante Elias P. Hutcheson. (…) Com um grito abafado, tal como um ser humano poderia soltar, ela inclinou-se sobre o filho, lambendo a sua ferida e gemendo.
Estas pequenas histórias são excelentes e retratam muito bem o tema do horror/terror/fantástico. A escrita e linguagem de Bram Stoker é bastante simples e acessível, contudo tem o seu grau de erudito, sendo bastante cativante e envolvente.

Outro dos aspectos mais técnicos destas histórias merecedor de destaque é a descrição. Bram Stoker relata-nos duma maneira exímia ambientes sombrios – é uma espécie de descrição ambiental: noite, frio, nevoeiro, tempestades… As coisas típicas de que normalmente nos amedrontamos.

A caracterização das personagens é curiosa. Não uma caracterização dita “geral”, pouca descrição há das personagens a não ser pelas suas acções, mas uma caracterização dos seus medos e fraquezas, dada por adjectivos como “horrorizado”, “aterrorizado”, etc.. Esta caracterização das personagens também ajuda a criar o ambiente sombrio acima referido.

Em suma, é um livro que tem que ser lido, quer se seja apreciador desta temática ou não. Esta é, definitivamente, uma leitura recomendável.

*Imagem encontrada no google.
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