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O Mandarim, de Eça de Queirós

23/02/2011


Eça de Queirós, nascido em 1845, é um dos mais conhecidos escritores portugueses, senão mesmo o mais conhecido. Certamente que todos sabem da existência (nem que seja de ouvir falar) das suas obras mais célebres, como Os Maias, O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, e a lista continua.

O Mandarim, livro de teor fantástico, foi publicado em 1880 e conta-nos a história de Teodoro, um homem simples que enriquece ao tocar uma campainha.

Teodoro está a ler um dos seus livros antigos, dos únicos prazeres que tem na vida, quando encontra um parágrafo que lhe chama a atenção:
No fundo da China existe um mandarim mais rico que todos os reis de que a fábula ou a história contam. Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição de um avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?
Do outro lado da mesa, aparece-lhe um homem vestido de negro que lhe aconselha a tocar a campainha, utilizando argumentos como a velhice do mandarim, o ciclo natural da vida (nasce-se, vive-se e morre-se), e 105 ou 106 mil contos, uma bagatela, segundo o próprio.

Teodoro, então, com desejos de ter mais que os seus miseráveis 20 mil réis mensais, toca a campainha, ouve um sino, e mata o mandarim de susto. Contudo, a Teodoro parece-lhe que a cena não passou dum sonho estranho.

No dia seguinte, Teodoro recebe a notícia de que tem em sua posse 106 mil contos, começando assim a sua “vida de milionário”, ou seja, começa a fazer aquilo que outrora não fizera por falta de dinheiro. Contudo, nem tudo são alegrias para Teodoro, que se sente culpado pela morte do Mandarim e, pior que isso, a sua consciência faz-lhe ver o fantasma do homem com o seu papagaio.

De maneira a expurgar a sua consciência, não aguentando as assombrações do Mandarim, Teodoro resolve viajar para a China à procura da família do mesmo para distribuir a fortuna, depois de erigir templos à sua santa padroeira. É um plano arriscado, mas segue em frente.

Na sua épica aventura pela China, para além de não encontrar a família do Mandarim Ti Chin-Fu, envolve-se com a mulher do general russo que o recebeu, é assaltado e quase morto pela população de um vilarejo, e é encontrado por uns padres católicos que o alojaram.

Teodoro, então, decide regressar a casa. Mal regressa, as assombrações voltam a acontecer. Num acto de desespero, Teodoro resolve voltar à sua antiga vida, ao trabalho, à pensão, ao bife duro da Madame Marques, continuando, todavia, com o dinheiro.

Como o Mandarim não pára de lhe aparecer, Teodoro decide voltar à sua vida de luxo. No momento da sua morte, deixa as suas posses para o Demónio, uma vez que considera que lhe pertence.

No que toca aos aspectos técnicos da história: a escrita é simples, fácil de se ler e envolvente (característica da escrita realista) e é narrada na primeira pessoa, pelo próprio Teodoro. Por todo o livro encontramos uma ironia subtil e mordaz, característica do autor.

A crítica social não poderia faltar e é-nos dada por Lisboa que cai aos pés de Teodoro quando este enriquece, e o humilha quando decide voltar à sua vida antiga (sobrevalorização do dinheiro ao invés de outros valores); pelo quase ateísmo de Teodoro (expondo os maus usos da religião); pelo quase desprezo que Teodoro sente pela pátria (“Quando tínhamos verbos…”); pelo exemplo que Teodoro dá ao tentar resolver as coisas em vez de ficar sentado à espera que elas aconteçam (ao contrário da maioria).

Esta história tem uma moral, e a moral é explicada pelo próprio autor:

Só sabe bem o pão que dia-a-dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!
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