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O Coração das Trevas, de Joseph Conrad

30/08/2011

O escritor

“Vivia numa treva indevassável. Eu olhava-o como quem está deitado no fundo de um abismo onde o Sol nunca brilha.”

Joseph Conrad foi um escritor inglês de origem polaca, nascido em 1857, cuja obra (pelo menos, grande parte) se centra na temática marítima, isto é, a vida no mar – o que se deve à experiência do próprio escritor, que foi marinheiro.

E creio que haja poucos escritores que consigam fazer um trabalho exímio nas descrições da dita “vida marítima”, como faz Conrad. As descrições do autor sobre o mar são incríveis e admiráveis (basta ler Juventude para apercebermo-nos disso); faz da imensidão do oceano um assunto com profundezas filosóficas e, dependendo do caso, um assunto feliz.

O Coração das Trevas foi publicado como livro em 1902 e, antes disso, foi publicado em 1899 na Blackwood’s Magazine, dividido em três partes. Conta-nos a história de Marlow que, decidido a viajar para África, arranja um trabalho numa companhia de marfim – e o seu trabalho consiste em transportar marfim, num barco em que é capitão.

Quando chega a África, a um posto onde encontra o administrador (que cuida dos assuntos de Kurtz), depara-se com a dura realidade: os nativos são explorados e maltratados, pagos com, por exemplo, argolas feitas com fios de cobre, são injustamente espancados e o marfim é-lhes roubado. Marlow encontra-se, assim, com as trevas da colonização.

Marlow vê então o seu trabalho mudado: compete-lhe, agora, levar Kurtz, que se encontra doente, a Inglaterra, depois de arranjar o seu navio. Toda esta história centra-se na viagem de Marlow e em Kurtz, que apenas aparece no final da narrativa.

O melhor do livro é a escrita de Conrad. A descrição das trevas, tanto físicas (como a selva) como as humanas (os maus tratos aos nativos e o mal que há em cada ser humano), o suspense em volta da personagem de Kurtz, que todos a descrevem como magnífica mas que, ao fim, não passa de um explorador sem escrúpulos, envolvem o leitor. Principalmente porque todo mal é descrito com uma escrita bela – um contraste entre a realidade e a escrita.

Existem várias interpretações do livro, entre elas psicológicas/sociais (o lado negro da humanidade que é disfarçado pela civilização) e históricas/políticas (os efeitos da colonização). Há, ainda, interpretações como a de Chinua Achebe, escritor nigeriano, que considera esta obra de Conrad como racista, dado que “desumanizou os africanos, negando-lhes linguagem e cultura e reduzindo-os a uma extensão metafórica da selva”.

Estou em crer que Joseph Conrad não retrata os africanos como humanos, facto que se nota no livro, mas pode ser um retrato fiel que o escritor faz da colonização e dos colonizadores.

*Algumas informações foram retiradas daqui e daqui.
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