*O escritor. (Imagem encontrada aqui.) |
“Na maioria dos livros, o eu, ou primeira pessoa, é omitido. Neste, será mantido, o que, no que diz respeito ao egotismo, é a principal diferença. Geralmente, não nos lembramos de que é, afinal, sempre a primeira pessoa que está a falar. Eu não falaria tanto sobre mim, caso houvesse uma outra pessoa que conhecesse tão bem. Lamentavelmente, estou confinado a este tema pela limitação da minha experiência. Aliás, eu, pelo meu lado, exijo de qualquer escritor, seja o primeiro ou o último, um relato simples e sincero da sua própria vida, e não meramente do que ouviu a respeito da vida de outros homens.”
Henry David Thoreau foi um escritor naturalista americano, nascido em 12 de Julho de 1817. As suas obras mais famosas são Desobediência Civil (título mais interessante dificilmente existirá) e Walden, de onde Onde Vivi e Para que Vivi é retirado.
Walden é uma autobiografia do escritor, que nos conta como é viver no meio da natureza, experiência que ele próprio fez à beira do lago Walden, em oposição a viver na sociedade industrializada. Claro que Onde Vivi e Para que Vivi, fazendo parte de Walden, nos diz o mesmo.
E não é só sobre viver nos bosques que este pequeno livro nos ensina, é uma lição de vida, uma busca espiritual e até da solidão, e de respeito pela natureza. Há algumas teorias que o escritor advoga que, para nós, são um tanto quanto desapropriadas (por exemplo, abdicar dos transportes), mas não retira o valor filosófico e reflectivo que o livro tem .
Onde Vivi e Para que Vivi é um livro muito bem escrito, lê-se de maneira acessível, se bem que com o seu tom filosófico uma pessoa demora a ler porque pára a leitura e põe-se a reflectir no que foi escrito (eu faço isto muitas vezes, e aconselho vivamente, só assim é que lemos realmente um livro).
“Devido a um suposto destino, geralmente apelidado de necessidade, ocupam-se, como refere um livro antigo, a amontoar tesouros que a traça e a ferrugem consumirão e que os ladrões minarão e roubarão. É uma vida de tontos, como perceberão quando a percorrerem até ao fim, se não for antes.”
“[O homem] não tem tempo de ser outra coisa para além de uma máquina. Como pode ele ter presente a sua ignorância (indispensável ao seu crescimento) se tem de usar os seus conhecimentos com tanta frequência.”
“A maioria dos homens leva uma vida de mudo desespero. O que é apelidado de resignação é na verdade um desespero incurável.”
“Parece que os homens escolheram deliberadamente o modo comum de vida porque o preferem a qualquer outro.”
“Eis a vida, uma experiência que, em grande medida, não vivi. Porém, de nada me vale que tenha sido vivida por eles. Se possuo qualquer experiência que considere valiosa, estou certo que os meus mentores nada disseram acerca de tal coisa.”
“Podemos avaliar as nossas vidas através de mil provas simples, como, por exemplo, reflectindo sobre a ideia de que o mesmo sol que amadurece os meus feijões ilumina de uma só vez um sistema de mundos como o nosso. Se me tivesse recordado deste facto, teria evitado alguns erros. (…) Quantos seres distantes e distintos em variadas mansões do universo estão a contemplar a mesma estrela neste preciso momento! A natureza e a vida humana são tão diversas como as nossas inúmeras constituições. Quem saberá que perspectiva oferece a vida a outro? Poderia haver milagre maior do que podermos ver através dos olhos de outrem por instantes?”
“Toda a mudança é um milagre a contemplar, mas é também um milagre que acontece a todos os instantes.”
“Ser filósofo não é somente ter pensamentos engenhosos, nem sequer fundar uma escola, mas sim amar a sabedoria a ponto de viver, de acordo com os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnificência e confiança. É solucionar alguns dos problemas da vida, não só a nível teórico, mas, de igual forma, a nível prático. O filósofo está adiantado na sua época.”
“No que diz respeito ao vestuário, para chegar de uma vez à parte prática da questão, talvez sejamos mais vezes movidos para o conseguir pelo amor à novidade e por consideração às opiniões dos homens, do que pela sua verdadeira utilidade. É uma questão interessante saber até que ponto conservariam os homens as respectivas posições sociais se fossem despojados das suas roupas.”
“Os homens alcançam, a longo prazo, somente aquilo que ambicionam. Assim sendo, apesar de, a curto prazo, poderem falhar, fariam melhor se almejassem algo num patamar mais elevado.”
“O ensino, por exemplo, é um aspecto importante na conta da anuidade, ao passo que a educação muito mais valiosa, que ele obtém ao relacionar-se com os mais cultos dos seus contemporâneos, não é cobrada. (…) Quem teria progredido mais ao final de um mês: o jovem que tinha feito a sua própria navalha a partir do minério que escavara e fundira, lendo sobre o assunto tanto quanto fosse necessário, ou o jovem que tinha frequentado todas as aulas de metalurgia no instituto e recebido um canivete do pai?”
“Um homem é rico em proporção ao número de coisas de que pode abdicar.”
“Existem mais dias para amanhecerem. O sol é apenas uma estrela matinal.”