Imagem de uma adaptação cinematográfica do livro, encontrada aqui. |
Apenas li dois livros de Henry James, A Fera na Selva e este Daisy Miller, o que me bastou para compreender a escrita/linguagem do escritor: são livros que nos aquecem o coraçãozinho, apesar de, no caso de Daisy Miller, o final ser trágico. E aquecem-nos o coraçãozinho não tanto pela história em si, mas pela compaixão que sentimos por uma ou mais personagens.
Em Daisy Miller, a minha compaixão foi directa para a personagem que empresta o nome à história. Daisy é uma rapariga americana que está de viagem pela Europa, onde, para espanto da sociedade oitocentista europeia, conservadora desde há muito tempo, namorisca com todos os jovens que lhe parecem interessantes.
Uma jovem americana namoradeira a namoriscar na Europa – é o mote desta história. Na Suíça, no Verão, Daisy conhece Winterbourne, seu compatriota, e fá-lo prometer ir a Roma no Inverno para voltar a vê-la.
Chegado a Roma, Winterbourne apercebe-se que Daisy vai a todas as festas, visita o maior número de famílias que lhe é possível e, é claro, namorisca e trava conhecimento com vários cavalheiros. E esta sua atitude, tão americana, tão liberal, tão independente, tão inocente, é vista pelos europeus e pelos próprios americanos na Europa (em Roma sê romano, já nos diz o ditado) como sendo ultrajante, indigna, mesmo leviana.
A sua reputação na Europa agrava-se quando começa a sair sozinha com Giovanelli e a recebê-lo no seu hotel, muitas vezes em conjunto com Winterbourne (o que, enfim, lhe fere os sentimentos, pois estava apaixonado pela jovem). O próprio Winterbourne começa a ter dúvidas sobre a sua inocência: se realmente Daisy faz o que faz sem se aperceber da gravidade ou se, meramente, sabe que é leviana e não se importa com o facto.
As dúvidas de Winterbourne aumentam, como o seu sofrimento, ao não se aperceber se Daisy está ou não está noiva de Giovanelli – e tenta, inclusive, mudar-lhe o comportamento, mas em vão. O americano só tem certeza da inocência de Daisy quando esta morre, melhor dizendo, quando a mãe da jovem lhe veio comunicar que a sua filha lhe pediu para dizer que não estava noiva, que nunca esteve noiva.
Este livro, em suma, trata de uma história de um amor não correspondido (ou, se o era, a jovem não o dava a entender, pois conservava o bom-senso de tratar os seus conhecimentos de maneira igual). Porém, é mais do que uma simples história de amor: é uma história que contrapõe os costumes americanos aos europeus, é uma história de uma jovem que não se deixa moldar pelas convenções sociais, uma história de uma jovem visionária que os seus contemporâneos não conseguiram/quiseram entender.
Mais sobre o livro:
Daisy Miller (Henry James), no The Sun Sets.
Daisy Miller (Henry James), análise do conto, no Artigos e Variedades.
Resenha: Daisy Miller - Henry James, no Sobre Livros.