Image Map

O Deus das Moscas, de William Golding

13/11/2011


Aqui está um livro completamente deslumbrante, ainda para mais se considerarmos que foi o primeiro livro que William Golding escreveu. Eu sei perfeitamente que tem que se ter em conta o facto de o escritor ter estudado literatura e línguas, mas isso não retira o mérito de o seu primeiro livro ser uma obra-prima.

O Deus das Moscas foi publicado em 1954 e imensas têm sido as teorias a seu respeito: uma alegoria, uma obra de filosofia moral, uma obra sociológica ou ainda uma obra político-social. Nunca gostei de ler tendo em mente teorias que outros que não eu tenham formulado sobre o livro – afinal, cada um faz a sua interpretação, que não difere muito do que nos dizem ser a interpretação correcta.

Tenho para mim que o verdadeiro intuito do livro, de qualquer livro, só o escritor é que o sabe. Por isso mesmo é que me permito a ter as minhas interpretações e que os outros podem ter as deles. Sendo assim, para mim, o livro retrata de uma forma excelente como o ser humano é por natureza: mau (e não é totalmente mau devido às regras sociais, morais, éticas, jurídicas).

Portanto, podem os leitores verificar que eu adoptei tanto a teoria interpretativa de filosofia moral como sociológica. Se lermos atentamente o livro, até podemos considerar todas estas teorias como certas.

A verdade é que nós só somos o que somos devido à existência de regras sociais. Os rapazes na ilha, a princípio, impõem regras a eles mesmos, porém só duram poucos dias/semanas. Apercebendo-se que não são punidos quando não cumprem as regras (mesmo tendo, nos recônditos da sua mente, a percepção de que os adultos não gostariam disso), deixam de as seguir, criando tensão entre eles (principalmente entre Jack e Ralph) e instabilidade.

E é a partir do momento em que a maioria dos rapazes deixa de cumprir as regras e passa a reger-se pelos próprios instintos, que as coisas começam a descambar. Deixam de fazer o fumo como sinal de sinalização, deixam de se preocupar com os outros, deixam de ver Ralph como líder, tentam caçar o monstro (que eles sabem que é pouco provável que exista). O ponto mais caracterizador deste aspecto é quando o grupo se divide: uns seguem Jack e quatro ficam com Ralph (Piggy, Simon, Sam e Eric).

Mesmo neste ponto culminante, as coisas vão ficando cada vez piores e mais sombrias: a tribo de Jack assassina Simon pensando que é o monstro, depois rouba os óculos a Piggy. Quando o próprio, Ralph, Sam e Eric tentam reaver os óculos, Piggy é morto e Sam e Eric são capturados e obrigados a entrarem na tribo – que tenta, depois, a todo o custo, matar Ralph.

O final do livro não deixa de ser interessante: o fumo do incêndio da floresta, que a tribo de Jack causou para apanhar Ralph, foi o que acabou por os salvar.

Em suma, toda a trama retrata a selvajaria e o que nos leva a ser selvagens, a ser maus, a ser medíocres. A conversa de Simon com o Deus das Moscas é reveladora disso. “Serei eu o causador de todo mal?” Deus das Moscas é a tradução literal do hebraico Belzebu (sinónimo de Diabo). Agora, as questões que se impõem da leitura desta obra são as seguintes (e por isso é que o livro é fantástico, porque nos faz reflectir):

• Há algo que nos induz à maldade?
• Somos maus por natureza?
• Conseguiríamos viver sem regras?
• Se sim, então porque foram criadas?

São perguntas que nunca terão resposta…
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...