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Eugénia Grandet, de Balzac

29/06/2014

*O texto tem spoilers.

Eugénia Grandet. Imagem: Wikipédia.
«Era o desastre terrível e completo. O barco afundava-se sem deixar nem uma amarra, nem uma tábua de salvação no vasto oceano das esperanças.»

1. Eugénia Grandet é um livro de Balzac datado de 1833. “Promessas de amor não cumpridas e a consequente infelicidade”, poderia ser a expressão para definir o conteúdo desta história. Ei-la, em meia dúzia de linhas: Eugénia Grandet, rapariga da província, apaixona-se pelo seu primo, rapaz parisiense, que também se diz apaixonado por ela, tendo os dois prometido um ao outro amor eterno. Acontece que o seu primo, uma vez que o seu pai faliu e se suicidou, parte para as Índias a conselho do seu tio (pai de Eugénia, cujo irmão lhe mandou uma carta pedindo-lhe que cuidasse do sobrinho). Quando regressa, anos depois, casa-se com uma senhora rica e de elevada posição social porque todos sabemos que, desde que o mundo é mundo, o dinheiro vale mais que o amor para muitas pessoas. O que o caro primo nem sequer desconfia é que, aquando o seu regresso, Eugénia possui uma fortuna considerável, que a herdou de sua mãe e de seu pai, sendo “gerente” dos negócios da família. A rapariga casa-se pelas convenções sociais, o seu marido morre e Eugénia, como sempre, continua infeliz. Infeliz por ver o seu amor partir para longe, infeliz por descobrir que o seu amor deixou de a amar, infeliz por não conseguir amar mais ninguém, infeliz por ter ficado sem família, infeliz por estar praticamente sozinha.

2. Neste sentido, poderemos considerar que infelicidade é, portanto, a palavra de ordem desta narrativa. A única personagem que minimamente parecia gozar de uma felicidade quase constante é o pai de Eugénia, burguês rico e avarento, cuja alegria suprema é, precisamente, o dinheiro. A sua mulher, submissa, a sua filha, sem muito afecto, a criada da família, tiranizada, consideravam-se satisfeitas com a sua vida simples – mas como o poderiam saber se era a única coisa que conheciam?

3. Eugénia Grandet é um romance considerado pioneiro da estética realista, havendo quem afirme que seja mesmo o primeiro. Sendo o primeiro romance realista ou não, o facto é que, pelo seu estilo e pela época em que foi escrito, é um romance de transição, tendo tanto características românticas como realistas.

4. O amor e a tragédia são temas românticos. As extensas descrições de Balzac, quer das paisagens, quer das personagens, quer das suas acções; a longa duração da história (que se desenrola durante anos); a crítica a certos comportamentos e atitudes humanas, como a avareza, a indiferença, o desprezo, o maldizer, entre outras – tudo isto perfazem características de uma obra realista.

5. Pelas características realistas que lhe são inerentes, principalmente no que toca à análise do carácter humano, algumas críticas presentes no livro ainda se aplicam aos dias de hoje – até porque, se há alguma coisa que a literatura nos ensina, é que o ser humano, na sua essência, não muda.


Links de interesse sobre o livro:
Eugénia Grandet - Balzac, na Garganta da Serpente.
Eugenia Grandet - Honoré de Balzac, no Devaneios Literários.

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