Imagem de uma adaptação cinematográfica (de 1970) do livro, encontrada aqui. |
«Não estou certa se deveria perder a cabeça antes dos vinte e seis anos e depois assentar e casar. Esta era a filosofia de Lucille, aprendida de mulheres mais velhas. Yvette tinha vinte e um. O que queria dizer que tinha ainda mais cinco anos para perder a cabeça em aventuras. E aventura significava, de momento, o cigano.»
Numa palavra, este livro trata de uma paixão de uma jovem, que se vê aborrecida com a vida, por um homem cigano. Mas comecemos por onde se deve começar, pelo princípio (pois eu acho que já ninguém aprecia os meus resumos que apenas resumem o meio da história).
Assim sendo, comecemos pela descrição da jovem e do meio onde vive – o que servirá para contextualizar a narrativa. A jovem, que se chama Yvette, é filha de um vigário e vem de uma família bastante conservadora que já sofreu um escândalo (a sua mãe abandonou a família para fugir com outro homem), pelo que tem certas regras sociais a cumprir, que lhe são impostas pela família.
Até que chega o momento em que descobre a sua sexualidade, a sua sensualidade, o seu desejo por um homem cigano; e todas as convenções sociais são quebradas: por o homem ser cigano, casado e com filhos, pela atitude desafiadora da jovem perante a sua família e por recusar qualquer relacionamento com outro rapaz. Em suma, Yvette não estava contente com o conservadorismo da sua família, tentando trazer alguma aventura para a sua vida – e talvez seja este facto o que proporcionou a sua repentina paixão pelo cigano.
Mas como uma jovem da sua posição conhece um cigano? Como uma qualquer pessoa conhece outra pessoa, vendo e falando, costume que parece ser ancestral e que ainda permanece em uso nos dias de hoje. No caso de Yvette, foi num passeio com os amigos e com a sua irmã, quando pararam num acampamento cigano e decidiram ler a sina. A leitura da sina da jovem foi peremptória: «Um homem moreno que nunca viveu numa casa e que te ama. As outras pessoas estão a espezinhar-te o coração. Irão espezinhar-te o coração até tu pensares que a morte chegou. Mas o homem moreno avivará a faísca que te restará e acenderá de novo o fogo, um bom fogo. Verás que bom que esse fogo será». E, de facto, a sua paixão foi, para além de repentina, arrebatadora.
Quando acontece uma cheia e a casa paroquial é inundada, o cigano salva a vida de Yvette e, parece, é a partir daqui que a paixão se torna amor, de ambas as partes. O final é muito aberto, a narrativa acaba com uma carta do cigano a Yvette, ficando o leitor sem saber se o par fica junto ou não, mas o essencial da história já está contado – e nem passa pela questão do amor.
Escrita em 1926 e publicada em 1930, a história foi muito polémica na altura em que foi feita, precisamente por tratar da sexualidade abertamente e sem qualquer tipo de pudor. O livro em si não tem nada de explícito, mas pelos padrões da época, D. H. Lawrence simplesmente se excedeu.
Mais sobre o livro:
A Virgem e o Cigano, no Caderno Preto.
A Virgem e o Cigano (D.H. Lawrence), n'As Leituras do Corvo.
A Virgem e o Cigano - D.H. Lawrence, no trombone com vara.