Imagem daqui. |
O génio visionário de Poe, poeta de projecções sombrias e, de amplos recursos, teve a sua amplificação refulgente em histórias seladas pelo mistério, cravadas a terror e traçadas por linhas negras que conquistaram o espaço do fantástico, sendo elegidas como fonte de inspiração para uma aclamada renovação literária europeia no final do séc. XIX.
As feridas abertas, as dores agudas, a instabilidade emocional e um passado lúbrico marcaram o desespero e o tormento de um homem que o conduziram para uma espécie de hecatombe interior, tornando Poe numa figura moribunda e abandonada.
Partes da introdução
Ora este é um livro interessantíssimo, não só por, naturalmente, reunir alguns contos de Poe, mas também pela própria escolha dos textos. Passo a explicar-me: tem algumas narrativas de horror/fantasia tão características do escritor e “os outros” contos.
Digo “os outros” porque não consegui classificá-los. São uma mistura de ensaios, de pequenas histórias humorísticas e de narrativas, digamos, normais. Eis a lista de histórias presentes no livro:
Sombra (uma parábola)
Leonor
As Mil e Duas noites de Scheherazade
O Diabo no Campanário
O Poder das Palavras
A Máscara da Morte Vermelha
Pequena Conversa com uma Múmia
O Enterro Prematuro
Morella
Três Domingos Numa Semana
O Anjo do Extraordinário
O Demónio da Perversidade
Quatro Bestas em uma: o homem cameleopardo
A Caixa Oblonga
Alguns destes contos podem ser “os outros”, mas a escrita permanece igual à que Poe nos habituou: uma escrita lindíssima, com uma linguagem eloquente, no entanto fácil de entender. Acredito que o principal ponto forte de Poe é a sua escrita cativante, que nos faz sempre virar a página.
Li por aí, algures na internet, que Edgar Allan Poe é um escritor chato e enfadonho, na medida em que se perde em longas descrições. Como sou pessoa que respeita a opinião dos outros, naturalmente que não fiquei ofendida, apesar de discordar daquele ponto de vista. Curioso é que, alguns contos, como Morella, por exemplo, parece que precisam de ainda mais descrições (porque parece-me que o final foi demasiado rápido).
Sim, é verdade, Poe faz longas descrições, porém não as considero chatas ou desnecessárias: muitas vezes são elas que dão o horror à história, ou que as torna especiais. Talvez seja suspeita ao falar, porque sou pessoa que só considera descrições como sendo chatas quando estas se tornam repetitivas, isto é, dizer duas, três ou mais vezes a mesmíssima coisa: e isso não acontece com Poe.
O livro conta ainda com uma excelente introdução, a contextualizar a vida e a obra de Edgar Allan Poe – pois, creio eu, nunca é demais as informações sobre a vida de um escritor e o que o leva a escrever o que escreve.
Para mim, as histórias de destaque são O Diabo no Campanário e Três Domingos Numa Semana porque me surpreenderam bastante. Se me apresentassem aquelas histórias sem me dizerem quem as tinha escrito, eu nunca iria dizer que foram escritas por Poe. Isto significa que Allan Poe era um escritor versátil.
Destaque também para a capa do livro. Não que seja uma capa espampanante, mas uma capa que tenha caveiras sempre será bem-vinda na minha prateleira.
*Livro da Planeta Editora, de 2006.