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Sobre o preconceito literário

20/09/2015

Uma livrara em Madrid. Imagem encontrada no Tumblr.
Não acredito em dogmas literários que nos dizem o que é boa literatura ou não. Acredito, sim, na liberdade de cada um, materializada no facto de se poder gostar ou não dos livros que bem entender.

Neste sentido, não tem lógica afirmar que se deveria ler certo autor em detrimento de outro – pois aplica-se o princípio de que cada leitor lê o que quer, pois cada leitor é livre e, supõe-se, tem pensamento próprio.

Todavia, existe um outro princípio que se deveria considerar nesta complicada equação: nem tudo o que tem a forma de um livro é necessariamente bom para o nosso intelecto – querendo isto dizer, por palavras não tão rudes nem tão amargas, que há livros maus (que diferem de leitor para leitor).

O conceito de mau livro é notoriamente subjetivo por incontáveis razões, sendo a principal o facto de esse conceito estar dependente do conceito de má literatura que tem cada um de nós.

Posto isto, chega-se à conclusão que o preconceito literário é um preconceito infundado, atendendo ao princípio da liberdade de cada um ler o que quiser ler, mas inevitável, tal como acontece fora destas questões de cariz intelectual.

Eu própria me sinto mais inteligente que algumas certas pessoas apenas por ler Dostoiévski (por exemplo), ao contrário dessas mesmas pessoas e, porventura, essas pessoas poderão pensar que eu não passo de uma simples jovem que pretende ser culta, mas que não o é.

Um outro exemplo é que eu não considero dignas (!) as pessoas que não leem o que eu leio – sendo que o que eu leio é considerado por mim, obviamente, como o suprassumo da intelectualidade a que uma pessoa pode aspirar.

Eu sou bastante devota do princípio da liberdade, mas a verdade é que olho com desdém quem lê livros que eu considero como maus livros – um paradoxo que reside em mim desde que comecei a afinar (entenda-se: requintar) os meus gostos literários.

Em suma, o preconceito literário não tem uma razão fundamentada para existir, a não ser alimentar o nosso ego, fazendo-nos acreditar que somos verdadeiramente sábios – e isso, em princípio, não deverá trazer qualquer mal ao mundo.

*Texto escrito de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.
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