Em primeiro lugar, Riemen mostra que, sendo um tema tabu na Europa, e apesar de existente, o fascismo tem outras denominações: extrema-direita, populismo de direita, conservadorismo radical… Negar o problema não é, definitivamente, tratá-lo ou, idealmente, eliminá-lo.
O ponto interessante deste ensaio, e o que vai ser aqui tratado, é a relação que o autor faz da crise civilizacional da Europa com o retorno do fascismo. Crise civilizacional porque é uma crise de valores: em suma, os nobres valores que caracterizavam a Europa, como a bondade, a compaixão, o amor, a justiça, foram substituídos pelo valor económico, isto é, a procura desenfreada do lucro.
A falta daquela nobreza de espírito torna-nos pessoas acríticas, egoístas e, em boa parte dos casos, torna-nos mesmo imorais: sendo o valor económico o único que nos importa, questões como a justiça, por exemplo, perdem importância se não nos trazem lucro.
Para o autor, a falta desses grandes valores relaciona-se com o fascismo na medida em que a política deixa de ser uma questão de interesse comum e passa a ser um espectáculo de angariação de votos (originando o populismo), não se pretendendo debater os problemas que a sociedade sofre. Assim sendo, e uma vez que a população é acrítica, o fascismo tem à sua disposição um grande campo de actuação.
Há duas grandes características do fascismo que importa aqui referir: primeiro, o facto de haver um líder carismático; segundo, o facto de haver ódio em relação a um inimigo comum que ameaça a população do país (normalmente, bodes expiatórios).
O facto de odiar o inimigo comum é muito importante, já que não tendo um programa político, ou ainda ideias e princípios fundadores, o fascismo precisa de cultivar o ódio e o ressentimento para conseguir sobreviver no espectro político.
Uma crise económica gera ressentimento que, associado à crise de valores, gera ódio e violência contra negros, contra imigrantes, contra muçulmanos, contra judeus, entre outros tantos, sendo que qualquer político com ideias fascistas pode instigar ainda mais esse ódio e essa violência.
Como combater, então, o fascismo? Teria que se mudar os valores e princípios pelos quais a sociedade pauta mas, numa primeira fase, talvez nos baste ter atenção, consciência e espírito crítico – três coisas em falta nos dias de hoje.
Considero este pequeno ensaio como um alerta essencial sobre a política que se faz hoje. Não que todos os políticos e partidos sejam fascistas ou tenham ideais fascistas, porém é desconcertante o facto de boa parte dos políticos terem pouca ética ou humanismo quando o assunto não é relacionado com a economia.
Fiquemos avisados, portanto.