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Breve nota sobre Tratado sobre a tolerância, de Voltaire

04/08/2014

Tratado sobre a tolerância é uma obra escrita por Voltaire, publicada em 1763, na qual o autor se dirige contra o fanatismo religioso, sendo uma obra contra a intolerância religiosa.

Jean Calas a ser acusado da morte do filho. Imagem daqui.

O motivo para Voltaire se indignar contra o fanatismo religioso foi o suplício injusto de Jean Calas, acusado da morte do seu próprio filho que se suicidou – segundo os magistrados que julgaram o caso e a população de Toulouse, Calas matou o seu filho porque este tinha intenção de se converter ao cristianismo. Uma intolerância que levou a um assassinato e à ruína de uma família.
Ou os juízes de Toulouse, arrastados pelo fanatismo da populaça, enviaram para o suplício da roda um pai de família inocente, coisa de que não há exemplo; ou esse pai de família e sua mulher estrangularam o filho mais velho, auxiliados nesse parricídio por um outro filho e por um amigo, coisa que não é da natureza. Num ou noutro caso, o abuso da mais santa religião produziu um grande crime. É, pois, do interesse do género humano examinar a questão de saber se a religião deve ser caridosa ou bárbara.
Voltaire encarrega-se, efectivamente, da revisão do processo de Calas, o que o levou a escrever este ensaio. O estilo voltairiano é o presente nas suas outras obras: uma crítica mordaz e pertinente, envolta numa linguagem simples, para que todos a entendamos.

O Tratado… está dividido em 25 capítulos, mais um artigo acrescentado numa edição de 1765. Os capítulos I, II, XXV e o artigo acrescentado na edição de 1765 tratam sobre o processo de Calas e a busca da sua família pela justiça, que lhe foi concedida. Os restantes capítulos, Voltaire dedica-os ao seu ensaio sobre a tolerância, justificando a sua necessidade.

De notar que, em nenhum momento, Voltaire critica a religião, mas antes o fanatismo e os homens que o levam a cabo. O capítulo XV apresenta-nos alguns «testemunhos contra a intolerância», muitos deles católicos, pelo que não é só Voltaire o seu defensor.
Todas as nossas histórias, discursos, sermões, obras de moral, catecismos, respiram e ensinam este dever sagrado de indulgência. Por que fatalidade, por que espécie de inconsequência desmentiríamos nós na prática uma teoria que anunciamos todos os dias? Quando as nossas acções desmentem a nossa moral é porque acreditamos que há uma vantagem qualquer em fazer o contrário daquilo que ensinamos; mas decerto que não há qualquer vantagem em perseguir os que não são de opinião igual à nossa e em provocarmos o seu ódio. Existe, pois, uma vez mais, absurdo na intolerância. Mas, dir-se-á, os que têm interesse em perturbar as consciências não são absurdos.
Perturbar as consciências é precisamente o que Voltaire faz neste Tratado…, não só as do século XVIII, como as dos séculos que se lhe seguem.


Mais sobre o livro:
Emblemas da intolerância: Jean Calas, Jean Charles e a tolerância segundo Voltaire, de Valério Guilherme Schaper.
"Tratado Sobre a Tolerância", de Voltaire[...], na Casa de Vidro.
Tratado Sobre a Tolerância - Voltaire e UNESCO, de Luciene Felix.
Voltaire pensador da tolerância: do combate ao fanatismo à luta contra o ateísmo, de Sébastien Charles.

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