The Adventures of Lord Iffy Boatrace, para quem não sabe, é um livro de Bruce Dickinson. Para quem não é fã de heavy metal, aqui fica a informação: Bruce Dickinson é o vocalista duma banda chamada Iron Maiden, é piloto de aviões, é historiador, é isto e é aquilo, mas para aqui interessa o facto de ser também escritor.
Esta sua obra literária foi escrita no ano de 1987, durante a Somewhere In Time tour e foi publicada em 1990, esgotando-se a edição britânica quase de imediato (talvez muito em parte por causa dos fãs dos Iron Maiden).
Infelizmente, não há uma edição portuguesa desta obra interessante. Como, então, li eu o livro? É fácil, li-o à conta das maravilhas que a internet proporciona, neste caso, os e-books. Natural é que eu o tenha lido em inglês e, aproveitando o momento, confesso aos leitores que não foi fácil.
A escrita de Bruce Dickinson é boa, é simples, é directa e é bem-humorada (humor proporcionado principalmente pela ironia e sarcasmo e pelas situações caricatas que vão decorrendo ao longo da trama). A linguagem também é simples e adequa-se às personagens. Dickinson usa bastante o calão britânico, pelo que o livro torna-se difícil de ler para quem não está tão familiarizado com a língua inglesa (é que, enfim, o calão nunca nos ensinam…), porém não há nada que um bom dicionário não resolva – os dicionários online, neste caso, são úteis e de mais fácil consulta.
Continuando nestes aspectos mais técnicos da obra: o livro está dividido em 5 partes (The Problem; The Solution; The Best Laid Plans; The Plot Thickens; The Final Solution) e em 20 capítulos.
Quanto à história - que é esplêndida e que tem um final inesperado - não há verdadeiramente muito para falar (até porque não quero revelar o enredo todo). Este enredo incide principalmente sobre a busca da riqueza (ganância) e sobre sexo.
Lord Iffy Boatrace, falido, sem dinheiro para a sua água quente, decide que tem que arranjar uma solução para enriquecer rapidamente. Ele decide, então, organizar um evento desportivo de caça a galinhas-bravas.
Acontece que, infelizmente, não havia muitas galinhas-bravas a serem caçadas na herdade do Lord Iffy, situada numa vilazinha da Escócia onde só há um telefone e um único táxi, por isso foi ao seu vizinho general encomendar galinhas-bravas mecânicas. Sendo fabricadas as galinhas-bravas, Iffy entra em contacto com antigos conhecimentos, a convidá-los para o seu evento desportivo.
Esses convidados são Roderick Morte D’Arthur Tenninson, Brian Taylor, Mark West, e respectivas esposas. Bruce Dickinson, naturalmente, dedica alguns capítulos à vida dos casais, nos seus aspectos íntimos e menos íntimos (sociais). Não irei revelar pormenores, apenas direi que, enfim, nenhum deles levava uma vida que fizesse inveja… É curioso ver aqui estereotipados e caracterizados os vários tipos de casal: aquele que praticamente nem uma palavra simpática dirige, aquele que discute constantemente, aquele que trai, aquele que casou porque certamente não encontrou nada mais interessante para ocupar o tempo, etc., etc. O autor estava a passar por um divórcio quando escreveu este livro, o que não deixa de ser curioso, pelo que podemos afirmar (mas não com garantias de certeza) que talvez ele se tenha inspirado no divórcio para escrever a parte destes casais (ou talvez não…).
Chegados à Escócia, os casais partem para a sua inesquecível e memorável estadia na casa do Lord Iffy, onde acontece o resto da história. Claro que as galinhas-bravas mecânicas são caçadas, mas outros eventos para além da caça também acontecem e ganham protagonismo na trama: são narrados episódios de necrofilia e mortes (causadas por acidente: a vítima era o alvo errado).
Não querendo fazer aqui um spoiler, mas correndo o risco de o fazer, quase todos convidados de Lord Iffy acabam por morrer. A história acaba como que no meio (sabendo que há uma sequela do livro – The Missionary Position): Lord Iffy vai para os EUA fazer de missionário, substituindo o seu irmão que detesta (que morreu também).
Basicamente, esta é uma história que retrata a busca incansável de riqueza (revelando a ganância, o materialismo e a luxúria do ser humano), não olhando a meios para isso – neste caso, esquemas e trafulhices. Uma reflexão muito bem-humorada, portanto; e aconselhável de se ler.
Podem fazer download da versão em pdf do livro aqui.
Na imagem: capa e contracapa do livro.