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A Fé de um Escritor, de Joyce Carol Oates

03/10/2010


"Escrever é a mais solitária das artes. O próprio acto de nos afastarmos do mundo a fim de criar um contramundo “fictício” – “metafórico” – revela-se de tal maneira curioso que escapa à nossa compreensão”.

Joyce Carol Oates nasceu em 1938 em Nova Iorque. O seu primeiro livro foi publicado em 1963 e desde aí já publicou cerca de 90 obras (livros, poemas, contos…). É importante referir isto porque este livro da autora diz-nos como se deve escrever.

Aliás, não nos diz exactamente como escrever, mas antes como devemos encarar a escrita como sendo escritores. Este livro é interessantíssimo por isso mesmo: normalmente, livros deste tipo e até workshops de escrita ensinam-nos técnicas de escrita (gramática, figuras de estilo, desbloqueamento), focando-se, assim, na escrita; neste livro de Joyce Carol Oates a autora não se centra na técnica mas centra-se em como nós devemos olhar a escrita e o seu processo.

Neste livro, a autora fala-nos de vários aspectos que devemos ter em consideração enquanto escritores: a inspiração, a leitura, os primeiros escritores preferidos, os fracassos, a autocrítica, as influências (óbvias e menos óbvias) e o lugar onde escrevemos. Joyce Carol Oates acredita que a escrita, a parte técnica da escrita, pode ser aprendida, mas temos de ter em conta outros aspectos como a inspiração, energia e genialidade.

Este livro é bastante simples, apesar do seu tema complexo, muito em parte pela sua escrita e linguagem fáceis de entender. Um aspecto técnico curioso desta obra é o facto de Joyce Carol Oates transmitir-nos o seu vasto conhecimento literário e a regra de que ter um conhecimento literário vasto é importante para se escrever: conhecer qual o estilo que mais se adequa a nós (e se o conseguimos escrever), o que é fácil ou difícil de se escrever…

No que toca à inspiração, ninguém sabe defini-la mas todos a sentimos. Joyce Carol Oates não se debruça muito sobre este aspecto, apenas diz-nos que nos sentimos mais aptos para escrever. E que a inspiração pode vir a qualquer altura.

Quanto à leitura, às influências e aos primeiros escritores favoritos, estes aspectos estão relacionados. Joyce Carol Oates exemplifica cada aspecto com um exemplo literário conhecido, a modos de podermos verificar a veracidade dos factos: “Tome-se o exemplo do jovem e exuberante Herman Melville, que, de tão impressionado pela colectânea de contos alegóricos escritos pelo seu contemporâneo Nathaniel Hawthrorne, Mosses from na Old Manse, reviu os seus planos para Moby Dick, transformando o tom cómico picaresco num outro mais grave e mais elevado.”

A influência para um escritor é evidente: “chegamos assim a uma verdade: a de que o escritor, até mesmo o escritor que aparecerá aos olhos de leitores e críticos como profundamente original, provavelmente baseou o estilo de prosa dele na obra de vozes eminentes que o precederam”. A influência faz-se pelas leituras que fazemos, daí a sua relevância (como já dito antes).

Quanto ao fracasso, Joyce Carol Oates dá-nos algum ânimo ao provar que quase todos os escritores de renome fracassaram alguma vez. Porém não podemos considerar o fracasso como sendo uma coisa propriamente má, pois impulsiona-nos a fazer algo que fazemos bem. Com o fracasso, até, ficamos a saber o que não devemos experimentar. Referente à autocrítica, Joyce Carol Oates refere que quase nunca corresponde ao que verdadeiramente se escreve.

Numa “mensagem” a um novo escritor, Joyce Carol Oates diz-nos para pormos no papel tudo aquilo que nos vai no coração. A bem dizer, só assim se consegue escrever. Este é um livro aconselhável de se ler, quer se queira aprender a escrever ou não, já que nos mostra esta técnica, esta arte e o quão difícil é.

*Na imagem: Joyce Carol Oates.
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