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A Dama de Espadas, de Aleksandr Pushkin

07/07/2013

*O texto tem spoilers.

Cena de um jogo publicada na Harper's Weekly de 3 de Outubro de 1857 - encontrada aqui.
“Duas ideias fixas não podem conviver no mundo moral, do mesmo modo que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço no mundo físico.”

Numa noite de cartas, um dos presentes, de nome Tomski, decide contar que a sua avó tem em sua posse um segredo que lhe permite ganhar uma quantia considerável no jogo. Um outro participante, Hermann, intriga-se com a história e resolve descobrir, a todo o custo, qual o segredo – sem sequer atentar-se aos incómodos escrúpulos.

Resolve, assim, fingir-se perdido de amores pela dama de companhia da velha, apenas para arranjar maneira de se aproximar dela. Consegue, de facto, fazê-lo, mas não consegue arrancar o segredo à mulher – somente consegue arrancar-lhe a vida: depois das mais variadas súplicas, Hermann aponta-lhe a sua arma descarregada, tendo a senhora morrido com medo.

O rapaz, sentindo a consciência pesar-lhe – ou seria simplesmente pena de si próprio ou, ainda, medo da vingança do destino – vai ao funeral da senhora e “pareceu-lhe que a falecida lhe deitou um olhar de troça, piscando-lhe um olho”.

Mais tarde, o fantasma da senhora aparece-lhe e, surpreendentemente, revela-lhe a combinação de cartas que o fará vencer no jogo, com a condição de que o rapaz nunca mais jogue na sua vida.

Hermann repete para si a combinação das cartas três, sete, ás, de maneira que “todos os seus pensamentos corriam numa única direcção: usar o segredo, que lhe custara tão caro”. Assim, decide ir a uma “sociedade de jogadores abastados” tentar a sorte.

A regra do jogo é simples: usa-se a combinação de cartas, mas não mais do que uma carta por dia. Os dois primeiros dias correram-lhe bem, saindo-se vencedor com o três e o sete. O terceiro dia de jogo, porém, torna-se-lhe fatídico: aposta no ás e sai-lhe uma dama de espadas.

Uma dama de espadas que “o fitou com uma expressão irónica e lhe piscou um olho. A semelhança deixou-o siderado”. O rapaz foi parar a um hospício, não dizendo coisa alguma para além de “três, sete, ás, três, sete, dama.”

Este é um conto que, como já ficou aqui provado, retrata a ganância e, de certa forma, uma ambição desmedida – que, em termos éticos e em estética literária, nunca poderia dar frutos duradouros, até porque o destino é rancoroso e vingador.

Talvez não devêssemos afirmar que o destino teve um papel fundamental no desfecho da história (pelo menos, para a nossa visão contemporânea e céptica do mundo), mas o que levou à perda de Hermann foi, em último caso, o seu querer-mais, aliado ao facto de não saber quando parar, de não ficar satisfeito com o muito que já tinha ganho, isto é, a sua ganância. Em suma, quis tudo e acabou por ficar sem nada.

De notar que a dama de espadas significa hostilidade oculta – não valendo a pena dissertar sobre o porquê da escolha da carta, pois torna-se óbvia. Uma lição moral, uma lição de vida que Pushkin escreveu bastante bem.
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