Aqui um bonito poema de Miguel Torga, o qual vou analizar, verso a verso (mais coisa menos coisa)
Foi na vida real como nos sonhos:
Nunca pisei um chão de segurança.
O sujeito poético nunca teve um ponto firme.
Procuro na lembrança
um sólido caminho percorrido,
e vejo sempre um barco sacudido
pelas ondas raivosas do destino:
Ora pois, o pobre coitado do homem nunca teve calmaria: a sua vida foi sempre uma montanha russa. E por isso culpa o destino, a.k.a Providencia.
Um barco inconsciente de menino,
Uma vida (sim, barco = vida) ingénua, própria de uma criança.
um barco temerário de rapaz,
uma vida aventureira de adolescente,
e um barco de homem, que já não domino
entre os rochedos onde se desfaz.
E a sua vida de adulto, sobre a qual já não consegue conter, e que se despenha, se destrói entre os obstáculos da vida. Os três barcos significam o percurso da vida, já agorinha.
Mas o céu era belo
quando à noite o seu dono o acendia;
Quando vinha o dia.
e era belo o sorriso da poesia,
A poesia convidava-o à convivência consigo, a escrever.
e belo o amor, dragão insatisfeito.
O amor era grande, e perigoso, tal como um dragão. É uma metáfora, para quem esteja a pensar que se calhar haveria ali um recurso estilístico.
E era belo não ter dentro do peito
nem medo,
nem remorsos, nem vaidade.
E seria Maravilhoso não ter sentimentos impuros dentro da alma.
Por isso digo que valeu a pena
a dura realidade
desta viagem trágico-terrena
sempre batida pela tempestade.
E é por isso (pela poesia, pelo amor, e pelos sentimentos, pelas todas as coisas boas da vida) que a sua vida cheia de altos e baixos valeu a pena.
Digam lá se não é bonito?