Image Map

O Clube dos Suicidas, de Robert Louis Stevenson

06/01/2012

O Clube dos Suicidas é um conjunto de três pequenas histórias de mistério que, juntas, formam uma narrativa. Foram publicadas primeiramente em 1878 na London Magazine, foram reunidas e publicadas no primeiro volume das Novas Mil e Uma Noites (que é um livro com histórias de Stevenson publicadas em diversas revistas).

As três histórias do Clube dos Suicidas – História do Rapaz dos Pastéis de Nata, História do Médico e do Baú de Saratoga, e A Aventura do Carro de Duas Rodas – apesar de serem diferentes e, a princípio, não estarem relacionadas, têm um fio condutor que não é o clube dos suicidas, mas duas pessoas que foram lá parar ao acaso e o presidente do tal clube.

Em primeiro lugar, convém esclarecer o que é e qual o intuito do Clube dos Suicidas: basicamente, é um clube onde um jogo de cartas determina quem vai morrer e quem vai matar. Logicamente, e como o próprio nome indica, o clube é composto por indivíduos que estão desgostosos da vida e não têm coragem de acabar com o seu sofrimento.

O jogo de cartas é simples: os sócios juntam-se todos em volta de uma mesa e o presidente baralha e distribui as cartas. Quem ficar com o ás de espadas vai morrer sem saber quando, onde e como, e quem ficar com o ás de paus é que decide o destino do outro. Em última análise, podemos mesmo dizer que este clube é uma espécie de suicídio assistido, se bem que o que se passa lá são assassinatos, ou seja, crimes.

A história está excelentemente escrita (não se poderia esperar outra coisa de Robert Louis Stevenson) e a sucessão dos factos capta a atenção do leitor - e ficamos presos à leitura. Pena é mesmo a história não ser maior: certamente que estas pequenas histórias dariam uma trilogia extraordinária.

[O resumo das histórias contêm spoilers]

História do Rapaz dos Pastéis de Nata

As duas pessoas que falei acima são o Príncipe Florizel da Boémia e o seu estribeiro-mor Geraldine que, na sua permanência em Londres e sem ter nada de interessante para fazer, resolvem-se disfarçar e vaguear pela cidade.

É neste ponto que a trama começa. Estando os dois num bar, aparece, como que do nada, um rapaz a oferecer pastéis de nata às pessoas, por sinal deliciosos. O príncipe e o seu amigo decidem aceitar o petisco depois de súplicas do rapaz e com a condição de que o rapaz jantaria com eles. A condição é aceite e o rapaz continua a tentar que as pessoas comam os pastéis de nata mas, não conseguindo essa extravagante façanha, come os restantes e parte para o jantar.

É nesse jantar que Florizel e Geraldine (convenientemente com identidades falsas para as suas aventuranças: Godall e Hammersmith) passam a conhecer a situação amargurada do rapaz (que perdeu o seu dinheiro e, consequentemente, o seu amor) e se fingem, também arruinados, mais por um pressentimento de uma aventura do que propriamente pena.

Então o príncipe queima as suas notas com o pretexto de que eram as últimas e que não queria o rapaz sozinho na desgraça, quando este revela que, se estavam devidamente angustiados, precisavam de 40 libras cada um para o Clube dos Suicidas.

Geraldine tem as 80 libras necessárias e, por insistência e por uma espécie de curiosidade mórbida do príncipe, ingressam os dois no clube. Foram submetidos a um inquérito por parte do presidente e admitidos. Realmente, todos os que lá estavam pareciam ter inúmeras razões para cometer suicídio – e talvez outras tantas para não terem coragem de fazê-lo.

A primeira distribuição de cartas determina que Malthus, um velhote simpático que era sócio do clube há dois anos, iria finalmente conseguir ver o seu dinheiro das quotas compensado, e que o rapaz dos pastéis de nata iria pôr fim à sua vida.

No dia seguinte, vem no jornal uma notícia a relatar a morte do velhote, que tinha caído num parapeito. A morte foi instantânea.

Nova reunião do clube. Os dois amigos compareceram, apesar dos avisos e súplicas de Geraldine. O rapaz estava culpado, cabisbaixo, devastado, destruído: se antes queria acabar com a sua vida, agora tinha mais uma razão para fazê-lo. A distribuição de cartas determina que o príncipe era a próxima vítima.

Ao caminhar de encontro à morte, arrependido por esta aventura, é capturado por Geraldine, que lhe informa que, de tarde, tratou de tudo. Todos os cúmplices destes actos criminosos iriam estar na sua casa.

O príncipe, assim, dá-lhes um sermão e promete-lhes emprego para melhorarem as suas condições e quanto ao presidente do clube, que considerava o verdadeiro criminoso, iria debater-se em duelo com o irmão de Geraldine.

História do Médico e do Baú de Saratoga

Um americano está em Paris. Recebe uma carta a marcar encontro num baile de Carnaval. Lá chegado, vê a sua vizinha com um rapaz loiro. Farto de esperar, decide ir-se embora quando uma senhora o agarra pelo braço e conversa com ele, declarando-lhe o seu amor. Marcam encontro para o dia seguinte – no qual a mulher não aparece.

No regresso a casa, apercebe-se que tem um cadáver na cama – o rapaz loiro que acompanhava a sua vizinha. Percebeu-se que tudo tinha sido um esquema para culpá-lo de um crime que não fez e grita.

Um médico, seu amigo e vizinho, ouve o grito e vem ajudá-lo. Depara-se com o cadáver e sabe que o rapaz é inocente – elabora então um plano. Manda o rapaz pôr o corpo num baú e decide expedir o mesmo junto da bagagem de Florizel, que estava também em Paris. O médico indicara-lhe uma morada na qual tinha que entregar o baú em Londres.

Lá chegado, dirige-se à morada. Porém, o criado informa-lhe que o dono da casa não estava presente e que depois marcaria hora.

À hora marcada, o rapaz, para sua surpresa, encontra o príncipe (que recebia toda a correspondência do presidente do clube dos suicidas) e declara-lhe a inocência. O príncipe acredita na sua história e, ao abrir o baú, vê que o cadáver era do irmão de Geraldine.

A Aventura do Carro de Duas Rodas

O tenente Brackenbury Rich, depois de regressar da Índia, vagueia por Londres, onde um cocheiro lhe faz sinal para entrar no seu carro. Sem ter para onde ir e sem ter com que se entreter, o tenente diz ao cocheiro que o leve a qualquer lugar.

E é assim que é. O cocheiro leva-o por caminhos sinuosos e estranhos até uma casa, onde estava a ser dada uma festa. Assim, explica ao tenente que a sua missão daquela noite não era nada mais, nada menos do que recrutar pessoal para a festa, principalmente militares.

Curioso, o tenente entra. Vê que há mesas de jogo a acha aquilo tudo muito estranho, apesar de o anfitrião ter as melhores das maneiras. Decide atentar-se mais à festa e repara que quando entram novos convidados, um número igual dos outros que estavam lá saem. Repara também que a casa foi alugada.

Quando restam apenas poucos convidados, o anfitrião revela o verdadeiro motivo daquele convívio: precisava de ajuda para salvar o seu amigo. Dito isto, a maior parte dos convidados vai-se embora, apenas ficando o tenente e o major o’Rooke.

Sendo assim, o anfitrião da festa revela ser Hammersmith (lembram-se dele?) e que o seu amigo precisava de duas pessoas qualificadas para um duelo que poderia ser mortal. Sabendo antemão da coragem dos seus convidados, eles aceitaram o desafio.

Foram conduzidos a uma casa abandonada, onde encontraram Godall, mas o’Rooke apercebeu-se da identidade do príncipe. Este, então, conta toda a sua história e que estava ali para ser morto.

Entretanto, chega o presidente do clube e o príncipe diz-lhe que o vai combater num duelo de espadas e que os oficiais que Geraldine recrutou seriam suas testemunhas. O príncipe ganha o duelo, pelo que nesta história os bons vencem os maus e justiça é feita.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...