Muito provavelmente, este foi o último livro que li este
ano, e certamente que foi um dos melhores (creio que só perde para o Deus das
Moscas). Há inúmeras coisas na internet sobre este excelente livro de Voltaire, pelo que
não me perderei em grandes análises, até porque sou da opinião de que cada um
faz a sua interpretação – que será sempre mais ou menos correcta.
O livro retrata, como a determinada altura diz Cândido
surpreendido, uma “espantosa cadeia de calamidades”, que acontece precisamente
com quem acredita que “tudo vai pelo melhor”. Esta obra de Voltaire é, exactamente,
um contraponto e uma crítica à filosofia optimista de Leibniz.
Afinal, como seria possível acreditar que tudo corre pelo
melhor, quando os humanos se matam uns aos outros, quando há roubos, violações,
desonestidades? Para Voltaire, só alguém bastante ingénuo, como Cândido, é que
acreditaria num mundo bom – e por isso mesmo é que cria a personagem do
filósofo Martin, com experiência de vida e, portanto, conhecedor dos males do
mundo e portador da certeza de que todos são infelizes. Ou seja, a perspectiva
de Voltaire traduz-se no seguinte esquema:
Ingenuidade = felicidade
Conhecimento/experiência = infelicidade
Todos são tristes e miseráveis, menos Cândido. Para o jovem,
e apesar de todas as desventuras por que passou, tudo corre bem desde que se
volte a encontrar com a menina Cunegundes. Aliás, é esta esperança que o faz
ser feliz e acreditar que o mundo em que vive é “o melhor dos mundos possíveis”.
O jovem é um misto de sentimentos ao longo da narrativa. Ora
está melancólico e com saudades de Cunegundes, ora está entusiasmado com a esperança
de se voltar a encontrar com ela.
E não será isto que retrata a vida de qualquer pessoa? Quando
algo corre bem, fica feliz; caso contrário, entrega-se à tristeza. Porém, de
uma maneira geral, “existe pouca virtude e pouca felicidade na terra”.
Com excepção do utópico Eldorado, por onde Cândido esteve. Lá
não se cometiam atrocidades, eram felizes, eram virtuosos. Pensemos: o único
lugar do mundo onde existe a virtude e se pode afirmar com clareza que tudo vai
bem, é justamente um lugar onde ninguém pode chegar. Não passa de uma utopia,
tanto o Eldorado como um mundo justo e bom.
O que temos que fazer é arranjar um “meio de tornar a vida
suportável”.
*Feliz 2012 para os nossos leitores.
**Resumo pormenorizado do livro no próximo post.