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Cândido (ou o optimismo), de Voltaire

31/12/2011

- Ó Pangloss! - exclamou Cândido - Tu não tinhas imaginado esta abominação! Decididamente, terei por fim que renunciar ao teu optimismo!
- Que é isso de optimismo? - perguntava Cacambo.
- Ai! - respondeu Cândido - É o furor de insistir que tudo está bem quando está mal!

Muito provavelmente, este foi o último livro que li este ano, e certamente que foi um dos melhores (creio que só perde para o Deus das Moscas). Há inúmeras coisas na internet sobre este excelente livro de Voltaire, pelo que não me perderei em grandes análises, até porque sou da opinião de que cada um faz a sua interpretação – que será sempre mais ou menos correcta.

O livro retrata, como a determinada altura diz Cândido surpreendido, uma “espantosa cadeia de calamidades”, que acontece precisamente com quem acredita que “tudo vai pelo melhor”. Esta obra de Voltaire é, exactamente, um contraponto e uma crítica à filosofia optimista de Leibniz.

Afinal, como seria possível acreditar que tudo corre pelo melhor, quando os humanos se matam uns aos outros, quando há roubos, violações, desonestidades? Para Voltaire, só alguém bastante ingénuo, como Cândido, é que acreditaria num mundo bom – e por isso mesmo é que cria a personagem do filósofo Martin, com experiência de vida e, portanto, conhecedor dos males do mundo e portador da certeza de que todos são infelizes. Ou seja, a perspectiva de Voltaire traduz-se no seguinte esquema:

Ingenuidade = felicidade
Conhecimento/experiência = infelicidade

Todos são tristes e miseráveis, menos Cândido. Para o jovem, e apesar de todas as desventuras por que passou, tudo corre bem desde que se volte a encontrar com a menina Cunegundes. Aliás, é esta esperança que o faz ser feliz e acreditar que o mundo em que vive é “o melhor dos mundos possíveis”.

O jovem é um misto de sentimentos ao longo da narrativa. Ora está melancólico e com saudades de Cunegundes, ora está entusiasmado com a esperança de se voltar a encontrar com ela.

E não será isto que retrata a vida de qualquer pessoa? Quando algo corre bem, fica feliz; caso contrário, entrega-se à tristeza. Porém, de uma maneira geral, “existe pouca virtude e pouca felicidade na terra”.

Com excepção do utópico Eldorado, por onde Cândido esteve. Lá não se cometiam atrocidades, eram felizes, eram virtuosos. Pensemos: o único lugar do mundo onde existe a virtude e se pode afirmar com clareza que tudo vai bem, é justamente um lugar onde ninguém pode chegar. Não passa de uma utopia, tanto o Eldorado como um mundo justo e bom.

O que temos que fazer é arranjar um “meio de tornar a vida suportável”.

*Feliz 2012 para os nossos leitores.
**Resumo pormenorizado do livro no próximo post.
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