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Carmilla, de Sheridan Le Fanu

30/05/2011


 "Vida e morte são estados misteriosos e nós sabemos pouco sobre os conteúdos de ambos."

Joseph Thomas Sheridan Le Fanu foi um escritor irlandês nascido em 1814, conhecido pelos seus contos góticos, de mistério e de terror. Carmilla, talvez a sua mais conhecida obra, foi primeiramente editada em 1872.

A história é narrada por Laura (vítima e amiga de Carmilla), que se tornou amiga da vampira quando esta teve um acidente na estrada e, a pedido de sua mãe, ficou a abrigo da família de Laura, que por acaso estava a passear e assistiu ao desastre. O pai de Laura aceitou em ter Carmilla como convidada, já que a sua filha estava solitária e nunca tinha tido uma amiga. Com a estadia de Carmilla, Laura adoece e passa a ter sonhos estranhos – mas não desconfia da amiga nem dos seus hábitos um tanto quanto estranhos.

Este é um livro que trata de vampirismo e, em vez de ser um livro sanguinário e repleto de terror, é mais um livro sombrio de suspense (nada contra histórias sangrentas), sendo esta a principal razão de a leitura ser cativante.

Ainda falando na leitura atraente, Sheridan Le Fanu conseguiu um excelente trabalho neste aspecto: o que seria mais uma história banal, da convivência de duas amigas e dos seus pesadelos, tornou-se numa história excepcional devido a pequenos indícios de vampirismo (e diversas dúvidas sobre os mesmos) e a mínimos momentos de terror que apenas são explicados convenientemente no final da obra. Ou seja, a vontade do leitor perceber o que acontece e porque é que isso acontece leva-o a querer ler.

Este efeito é aumentado pela própria divisão dos capítulos (o que vem a provar que nada que um escritor faz é por acaso): o capítulo como que acaba a meio, cortando assim a sucessão lógica dos factos e levando-nos ansiosamente ao próximo capítulo.

Outro dos aspectos técnicos do livro é a alternância de momentos com grande carga psicológica (por exemplo, pavor) com momentos de relativa acalmia (como alegria, por exemplo) – e sim, a leitura torna-se agradável porque não se é atacado com uma só parte de “maus” momentos e, de seguida, com outra parte apenas de “bons” momentos ou vice-versa.

O autor faz uma descrição exímia do ambiente, senão reparem: um castelo gótico, enorme, praticamente no meio da floresta e quase isolado do resto da civilização… coisa boa não sairá daqui. Ou seja: é através das descrições, quer do ambiente quer das personagens, que a história se torna sombria.

Nada pode ser mais pitoresco ou solitário. Fica numa ligeira elevação numa floresta. A estrada, muito antiga e estreita, passa em frente de uma ponte levadiça, jamais erguida no meu tempo, e o seu fosso tem um poleiro e muitos cisnes flutuando sobre a superfície da água, flotilhas de lírios brancos.
Dominando tudo isso, o schloss [castelo] mostra a sua fachada com muitas janelas, suas torres e a sua capela gótica.
A floresta abre-se numa pitoresca e irregular clareira e muito antes do portão, à direita, uma íngreme ponte gótica acompanha a estrada que serpenteia ao longo de um riacho que mergulha em profundas sombras através do bosque.

Em suma, este é um livro muito interessante e que merece a nossa atenção.

*Imagem: Carmilla e Laura
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