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Nada mais, nada menos

20/09/2014


Filme: Eu sou mais popular.
Livro: Eu sou melhor. E cheiro muito bem.
Imagem daqui.

João Botelho realizou um filme que é nada mais, nada menos que a adaptação de Os Maias, de Eça de Queirós. Numa pequena entrevista ao Jornal de Notícias, do passado dia 11, o realizador afirma o seguinte:

Cheguei a um ponto da minha vida em que percebi o meu ponto de vista. O ponto de vista é o meu. O mesmo texto, nas tuas mãos, é filmado de outra maneira.

Creio que esta é uma coisa importante de perceber. Cada livro está sujeito à interpretação do leitor, que é devida aos mais variados factores: quem faz um filme baseado num livro, tem a sua interpretação do mesmo, podendo o filme ser bastante fiel ao livro ou não, podendo também a sua classificação de “bom” ou “mau” depender da experiência de leitura dos espectadores.

Se cada pessoa tem a sua interpretação do livro, poderemos classificar um filme apenas como sendo fiel ou não ao livro? Deveremos somente considerar o ponto de vista em que o filme foi feito ou o nosso próprio ponto de vista? Independentemente da classificação que lhe dermos, um filme não passa de um ponto de vista interpretativo do livro. João Botelho disse ainda na entrevista:

[…] as pessoas pensam muito em realismo, quando pensam em cinema. Eu penso sempre numa certa distância. O cinema permite-me uma coisa de que gosto muito, a elipse. Espero que as pessoas, depois de verem o filme, vão para casa preencher os buracos que faltam.

Em suma, um livro nunca poderá ser inteiramente adaptado ao cinema, no sentido de haver no filme tudo o que há no livro. O conceito do filme, então, passa a ser relevante (e não apenas o filme em si). E se uma pessoa depois de ver um filme tiver vontade de ler o livro, ou relê-lo, o filme foi bem conseguido.

Talvez o mesmo nunca acontecesse se um filme fosse unicamente uma cópia imagética do livro – o que me leva à conclusão que literatura e cinema não são totalmente opostos e diferentes, sendo antes artes complementares.

*Estas considerações não invalidam que haja filmes baseados em livros que sejam maus, independentemente do seu conceito.
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