*Este livro faz parte da colecção Biblioteca de Verão (2011), do DN/JN.
*O texto tem spoilers.
Ilustração de Cristina Valadas, presente na capa do livro. Imagem original encontrada aqui. |
O Rouxinol e a Rosa, de Oscar Wilde
«Ah! de que insignificâncias depende a felicidade! Li tudo o que escreveram os sábios, conheço todos os segredos da filosofia. No entanto, a falta de uma rosa vermelha torna a minha vida intolerável.»
Um estudante precisa de uma rosa vermelha para dançar com uma rapariga, quando no seu jardim não as há. Um rouxinol, que ouviu os seus lamentos, decidiu procurar essa rosa, mas só a conseguirá se sacrificar a sua vida (a rosa branca tornar-se-á vermelha com o seu sangue).
De facto, o estudante consegue a rosa vermelha, mas a rapariga recusa-se a dançar com ele para dançar com o sobrinho do camareiro, rapaz muito mais rico. O sacrifício do rouxinol foi em vão e o estudante passou a ser prático, dedicando-se à filosofia e à metafísica.
Correndo o risco de esta análise ser bastante simplista, o intuito da história não é mais do que mostrar que grandes sacrifícios pelo amor podem revelar-se inúteis; para além de, obviamente, mostrar até que ponto o ser humano pode ser fútil (preferindo o dinheiro ao amor) e ingénuo (acreditando que o amor se compra).
De Viagem, de Guy de Maupassant
«Eu sentia-a feliz, ela tão abandonada e que se sabia perdida, feliz por ser amada assim, com esse respeito e essa constância, com essa poesia exagerada, com essa dedicação pronta a tudo.»
Uma história de amor que talvez seja classificado como louco. Uma condessa (doente e praticamente abandonada pelo marido) viaja de comboio quando decide contar o dinheiro que trazia consigo. Entretanto, entra na sua carruagem um homem que lhe garante não ser nenhum malfeitor, apenas quer urgentemente passar a fronteira.
A senhora aceita ajudá-lo e fá-lo passar-se por seu criado, com a condição de o homem não lhe dirigir a palavra. De facto, o homem cumpriu a sua promessa, a não ser quando agradeceu à condessa.
O estado de saúde da condessa piorava, contudo era feliz, sentindo-se amada pelo homem que ajudou, que todos os dias a observava de fora, que nunca lhe dirigia a palavra. Quando a senhora morreu, ele beijou-lhe a mão ternamente.
Este poderia ser considerado um amor tresloucado, mas é, realmente, um amor dedicado, um amor poético, até mesmo um amor impossível – fazendo, independentemente da classificação, o casal feliz.
Amor, de Anton Tchecov
«Perdoo quase inconscientemente, sem me forçar, como se os erros de Alexandra fossem os meus erros; e muitas coisas, que antes me chocavam, fazem-me mergulhar no enternecimento e até no entusiasmo. Os motivos dessa indulgência universal residem no meu amor por Alexandra. Quanto aos motivos desse amor, na verdade, ignoro-os.»
Nesta história, o narrador tenta perceber o amor que sente por Alexandra, as suas cartas, as suas visitas, os seus passeios… Chega, inclusive, a desesperar-se com o seu estado civil de noivo, já que está a meio do caminho sem nada poder fazer.
Evidentemente, não consegue descobrir o porquê do seu amor. Mas não será assim com qualquer sentimento que nos enobrece?
A Fuga, de Rainer Maria Rilke
«Detesto-os a todos. Horroriza-me a maneira como olham para mim quando venho de estar contigo. Mostram-se desconfiados. Desconfiados e tão maldosamente alegres! Já não sou uma criança. Hoje ou amanhã, logo que possa ganhar a vida, vamos os dois para longe daqui.»
A premissa para esta história é simples: um casal que pretende fugir para onde o seu amor não seja impedido. Fritz tem a ideia de partir com Anne para qualquer lugar, sem ter a certeza de como ou quando o vai fazer.
Um dia recebe uma carta de Anne a combinar um encontro na estação: o dia da partida chegara. A princípio, Fritz prepara as coisas, mas depois reflecte: para onde iriam, como arranjariam dinheiro, onde viveriam?
Pensava que seria uma decisão apressada de Anne e, por isso, resolveu ir à estação para verificar que ela não iria, até porque se apercebeu que não a amava realmente – ou decidiu não querer amá-la. Avistou-a na estação e desatou a correr para a cidade.
De facto, é árduo tomar uma decisão desse tipo, arriscando a vida fácil. O rapaz ficou receado, todavia não o podemos acusar de insensatez.
Hubert e Minnie, de Aldous Huxley
«Momentos havia, geralmente a horas tardias, em que ele tentava persuadir-se a si próprio de que era o mais desesperado, o mais infeliz, o mais apaixonado dos amantes. Mas, durante o dia voltava às suas ocupações, alimentando como que um agravo contra o amor.»
Uma história de um amor não correspondido. Hubert pensava que amava Minnie, mas a verdade é que só a amava porque ela o amava. De resto, o amor entre eles não correspondia às expectativas de Hubert: pensava que, uma vez apaixonado, entraria num mundo de poesia, de «paisagens bonitas», num amor descrito como na literatura.
Não aconteceu assim. Talvez a literatura exagere.