Oh!, o que é o homem para que se atreva a queixar-se de si próprio! Caro amigo, prometo-te, corrigir-me-ei, nunca mais quero, como sempre fiz, saborear até à última gota o amargor que nos reserva a sorte. Gozarei o presente, e o passado será para mim o passado.
Desgraçado do que se atreva a dizer: insensata!, se esperasse, se deixasse correr o tempo, o seu desespero ter-se-ia acalmado, em breve ela encontraria um consolador. É como se se dissesse: insensata que morreu de uma febre!, se esperasse que lhe voltassem as forças, que o seu sangue se purificasse, tudo se restabeleceria e ainda hoje viveria. (…) O homem é sempre o homem, a pequena dose de senso que este tem mais que aquele pouco pesa na balança, quando as paixões fervilham e se faz sentir o limite imposto à humanidade.
Mesmo os esforços que faço para me lembrar e traduzir esses inexprimíveis sentimentos, elevando a minha alma acima de si própria, fazem-me duplamente sentir os tormentos da situação em que me encontro agora.
Que mudança! Então com feliz ignorância me lançava cheio de desejos para esse mundo ignoto e contava vir a dar ao meu coração tantos prazeres que deviam enchê-lo até às bordas. Agora regressava desse mundo. Ó meu amigo!, quantos planos destruídos!
Não sou eu o único a lamentar. Todos os homens são ludibriados nas suas esperanças, iludidos na sua expectativa.
Mas para quê?, porque não conservar em mim o que me aflige, e que me torna desgraçado?, porque afligir-te também?, para quê dar-te sempre motivo de me lamentares e de me ralhares?
Oh!, não ser eu um maníaco!, não acusar eu o tempo, um terceiro, uma empresa falhada! Então, o insuportável fardo das minhas mágoas, não me pesaria tanto. Desgraçado que sou! Sinto, e bem demasiado, que a culpa é toda minha!
…no terrível momento em que todo o meu ser treme entre a existência e o nada, em que o passado reluz como um relâmpago sobre o sombrio abismo do futuro, em que tudo o que me rodeia se desmorona, em que o mundo fenece comigo.