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Frankenstein ou o Moderno Prometeu

29/02/2012

Imagem daqui.
Frankenstein, obra conhecidíssima de Mary Shelley e bem presente no nosso imaginário, foi escrita entre 1816 e 1817 e publicada em 1818. Porém, a terceira edição do livro em 1831 é considerada como a definitiva.

A habilidade criativa de Mary Shelley é evidente à medida que lemos o livro e não posso deixar de a mencionar aqui. Em primeiro lugar, o livro foi escrito quando a senhora tinha 19 anos – facto que por si só é respeitável. Em segundo lugar, todo o livro transborda um único sentimento, o desespero (e o ódio, em consequência), que é sempre descrito com palavras diferentes – isto, meus caros leitores, chama-se talento.

No entanto, quem espera ler uma história de terror pode pensar em ler outro livro que não este. O que Frankenstein relata é, sobretudo, um terror psicológico, um sofrimento inexprimível – que leva o leitor a comover-se.

A narrativa é uma história dentro de uma história: começa com Walton, capitão de um barco, a contar a história de Frankenstein, um homem que encontrou no mar. Por sua vez, Frankenstein conta a sua vida a Walton, que conta à irmã através da correspondência.

A história de Frankenstein (que, por esta altura, os leitores já devem ter percebido que é a pessoa que criou o monstro, e não o monstro, que não tem nome) é fácil de ser resumida. Apaixonado por ciências naturais, Frankenstein dedica inteiramente os seus estudos a essa disciplina e, ansioso por perceber a essência da vida, acabar por criar um monstro.

O monstro vagueia até chegar a Alemanha, onde passa a viver perto de um chalé, habitado por dois jovens e o seu pai. Através da observação, a criatura passa a aprender a falar e a ler e, inclusive, passa a gostar dos habitantes do chalé. Há bons sentimentos no coração da criatura.

Como o pai da família é cego, a criatura decide primeiro falar com ele quando estivesse sozinho em casa, pois como não o veria, não sentiria preconceitos. De facto, o velho ouviu-o, porém a meio da conversa chegam os filhos, que ficam horrorizados e afastam-no do monstro.

A criatura fica desesperada e com um sentimento de vingança para com o seu criador. Afinal, porque o criara para o fazer sofrer? Decide viajar até Genebra, terra natal do seu criador, e lá mata o seu irmão mais novo, Guilherme, e incrimina Justine, sua criada.

Frankenstein não suporta a angústia e o sentimento de culpa (pois sabe que foi a criatura que cometeu o crime) – e desde esse momento que passa a viver assim, com crise de nervos, agonizado, com uma verdadeira tortura mental que só quem lê o livro é que entende.

O monstro pede ao seu criador que lhe faça uma noiva – e assim nunca mais cometerá qualquer crime; se recusar, passará a sofrer misérias e desgraças. Frankenstein aceita o pedido, compadecido da história da sua criatura: afinal, fora ele quem o criara e o seu ódio deveu-se apenas ao preconceito dos humanos.

Viaja para Inglaterra para melhorar os seus conhecimentos sobre o assunto. Todavia, reflecte melhor e destrói a segunda criatura: quem lhe garantia que os dois não matariam mais algum ser humano? Quem lhe garantia que os dois vivessem isolados?

O monstro, que vira a destruição da sua companheira, promete fazer Frankenstein arrepender-se do que fez. Primeiro, mata o seu melhor amigo. Na noite de núpcias, a sua mulher. E, por consequência, o seu pai morre ao receber a notícia.

Frankenstein jura matar o monstro e segue em sua perseguição – o que justifica o facto de ter sido encontrado à deriva no mar pelos homens de Walton. Chega a morrer, abatido pelos nervos, e a criatura chega a arrepender-se, dizendo que se vai matar.

Acaba assim esta extraordinária história. Nunca é demais saudar a escrita de Mary Shelley, que creio ser o destaque principal do livro. As suas detalhadas descrições da Natureza e as eternas aflição e culpa de Frankenstein fazem com que nos agarremos à leitura.

Com certeza que, quem já leu o livro, deve ter reparado a lição de moral inerente a ele. O objectivo do livro não foi dar essa mesma lição, mas sim ser apenas uma história de terror, contudo é bom reflectir no seguinte:
  • Porque as pessoas deram ouvidos aos seus preconceitos e não ao monstro?
  • Tornamo-nos bons ou maus devido à influência exterior? (não pude deixar de associar o monstro às inúmeras teorias sobre psicopatas, que afirmam que são psicopatas devido a terem sido maltratados).
  • O conhecimento (e a sua respectiva busca) torna-nos miseráveis?
É um livro a ser lido, até porque todos nós sabemos que um livro que faz reflectir é um livro bom.
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