“Às vezes as coisas mais parvas acabam por complicar-nos a vida.”
Javier Cercas é um escritor espanhol mundialmente conhecido pelo seu romance Soldados de Salamina, editado em 2001. O Inquilino, foi editado em 1989 mas a versão portuguesa só chegou em 2005.
O Inquilino trata a história de Mario Rota, professor italiano de fonologia que vive e dá aulas nos Estados Unidos. Contudo, se a história fosse só esta provavelmente seria aborrecida… Quando Mario conhece o seu novo vizinho (que mais tarde viria a saber que era também o seu novo colega de profissão), Berkowicz, a sua vida passa a ser um inferno: começando com um simples acaso como torcer o tornozelo.
A vida enfadonha e rotineira de Mario, nas semanas que se seguem à chegada do vizinho, dá muitas voltas: fica com o emprego mas com o salário reduzido a um terço (porque Berkowicz dá duas das três aulas de Mario), fica sem o seu gabinete (que o perde para Berkowicz – mas este desconhece que o cubículo foi de Mario), fica sem a sua doutoranda (pois agora é Berkowicz que orienta a tese da aluna), fica sem namorada (que é a doutoranda, que admira Berkowicz) e, por fim, fica sem amigos/colegas, pois estes acham que Mario está cada vez mais irritadiço e paranóico com a chegada do seu novo colega.
Acreditando que são coincidências a mais, isto de a sua vida ser virada de pernas para o ar quando o seu rival chega, Mario não pode evitar em pôr as culpas no seu novo vizinho, que lhe tirou tudo.
Efectivamente, Berkowicz é melhor que Mario em quase todos os aspectos da vida: é melhor professor, os seus artigos são comummente conhecidos, é mais amigável e simpático, mais bonito… Sendo assim, Mario começa a ficar preocupado, paranóico, até, e mesmo com medo, isolando-se cada vez mais para espanto dos seus colegas e amigos.
A história vai acompanhando a vidinha de Mario e é narrada duma maneira que prende o leitor à mesma, pelo que o final é totalmente inesperado (aliás, costumam dizer que os bons finais têm de ser assim). Acontece que, afinal, o rival de Mario não foi mais que a sua imaginação, um sonho seu, uma ilusão.
O facto de o final ser assim relembra-nos O Duplo, de Dostoiévski, em que Goliádkin fica obcecado com um seu colega que é uma cópia fiel de si mesmo (mas isto é outra história que está num outro livro).
A história está contada com uma linguagem simples e de fácil entendimento, pelo que a leitura torna-se agradável e fácil. As descrições que o Javier Cercas faz da vida monótona de Mario faz com que o leitor fique ainda mais surpreendido com os acontecimentos inesperados. O autor fez um trabalho excelente com esta história, o leitor sente-se com se participasse na mesma.
Este é um livro que tem o essencial a uma boa leitura (uma história bonita, uma escrita cativante e um final inesperado) e, por isso mesmo, merece ser lido.
*Imagem: capa do livro.