Quadro de Nom Kinnear King |
Foi realizado um estudo, não científico, mas apenas a título de curiosidade, para revelar à humanidade quais os livros que as pessoas dizem ter lido quando, pelo contrário, muito provavelmente nem sequer lhes tocaram.
A lista dos livros é interessante, contendo tanto livros clássicos como livros contemporâneos. O curioso, e que poderia tornar este estudo verdadeiramente científico, seria descobrir a razão de alguém mentir sobre um livro, impondo-se duas perguntas, a meu ver, pertinentes:
- Porque uma pessoa faria isso – melhor dizendo – que tipo de conversa leva a pessoa a mentir sobre um livro?
- Porque a pessoa mentiria, sabendo de antemão que esse tipo de mentira é das mais fáceis de se descobrir?
Existem, e foi provado, certas pessoas que cometem esse delito moral (mentiras pequenas são, na mesma, mentiras). Não deixa de ser intrigante, pois realmente não há qualquer necessidade de mentir sobre livros. Admitamos que todas as pessoas que se interessam pelos livros que lemos ou não lemos, são suficientemente inteligentes e sensatas quanto ao assunto.
Em primeiro lugar, compreenderiam que livros são enésimos, não tendo uma pessoa tempo ou vontade de ler este ou aquele em particular. O que, de resto, é muito natural, pois não se pode ler todos os livros ao mesmo tempo, nem muito menos apreciar todos os géneros. Em segundo lugar, reconheceriam que uma pessoa tem o direito de não gostar de determinado livro, podendo ter lido apenas meia dúzia de páginas e nunca mais ter pegado nele.
Em suma, essas pessoas que se interessariam pelos livros que lemos ou não lemos (admitindo que seriam inteligentes e sensatas), não nos julgariam pelos livros que não lemos. Aliás, tenho em crer que essa seria, até, a última coisa que fariam, tendo em conta o princípio universal de apenas julgar um leitor pelos livros que realmente leu (e costuma ler).
Talvez a razão de mentir sobre livros resida tanto na necessidade de aceitação como na necessidade de não se ser considerado ignorante. Grandes males não virão se estas mentiras forem descobertas, porém uma reputação de pessoa culta e honesta acaba naquele instante.
Todavia, tudo isto são suposições. Acredito efectivamente que ninguém queira saber dos livros que uma pessoa lê ou deixa de ler. Falo por mim, pois são raras as vezes em que me perguntam tal coisa.
É uma pena, uma lástima, diria, não ser atacada com perguntas de cariz literário: a maior parte das pessoas que conheço não se interessam por livros, enquanto eu só conheço assunto que tenha a ver com eles. Analisando a situação, eu não tenho conversas com ninguém – restando-me a consolação de saber que, pelo menos, não minto.