Apenas uma breve nota, porque me encontro sem tempo nem vontade para escrever sobre livros. Aliás, vontade tenho, mas como ando apinhada de trabalhos para fazer (curiosamente, baseados em livros), a última coisa em que penso é no meu dever literário e intelectual. Adiante.
Cartas a Luísa é um extraordinário ensaio social (se é que tal coisa existe, mas também não chega a ser filosófico) sobre o século XIX. É bem verdade que, na introdução, a saudosa escritora avisa logo o leitor de que o livro é sobre a condição feminina – e, quem não for fã do assunto, pode logo aproveitar para ler outro livro. Porém, na minha modesta e desentendida opinião, Maria Amália Vaz de Carvalho discorre mais sobre o século em geral do que propriamente a condição feminina.
Por isso que o livro é interessantíssimo: um retrato do século XIX (que também inclui a cultura, o que é de se honrar) feito por quem viveu na época. Decerto que o livro é apenas o que a escritora pensa do século XIX, é a sua opinião – mas é regra geral que os grandes intelectuais tenham sempre razão, portanto podemos confiar no seu testemunho.
No que toca propriamente à condição feminina, a autora defende alguns aspectos que hoje, aos olhos do bastante evoluído século XXI, consideramos plenamente imbecis e sem sentido. Por exemplo, a autora defende que a mulher deve ser submissa ao seu marido ou que ainda não deve envolver-se em política, que esse era um mundo de homens.
A partir daqui vemos como a condição social da mulher alterou bastante mas, igualmente, vemos como muitos homens, nos dias que por hoje passam, acreditam nestas premissas. E, meus caros, quem lê muito e sofregamente, acto próprio de pessoas cultas, já se deve ter apercebido que a mentalidade humana nunca muda.
No mais, a escrita e linguagem de Maria Amália Vaz de Carvalho é bastante apropriada para o tipo de livro que é. Primeiro, são cartas dedicadas a Luísa, uma amiga sua, pelo que a linguagem é coloquial (tendo, mesmo assim, os seus toques de requinte); segundo, por ser um ensaio, a linguagem é clara. Escusado será dizer que a autora argumenta de uma forma excelente.
Nota-se, à medida que se vai lendo o livro, a instrução da autora, que dedica grandes parágrafos à análise de Balzac e é admiradora de Rousseau (por curiosidade, homem que Dostoiévski não apreciava).
Em suma, este é um livro óptimo para quem quer conhecer a beleza que é o século XIX e, também, para quem quer saber o que uma mulher pensa sobre a sua condição social.