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Breve nota sobre Cartas a Luísa, de Maria Amália Vaz de Carvalho

25/05/2012


Apenas uma breve nota, porque me encontro sem tempo nem vontade para escrever sobre livros. Aliás, vontade tenho, mas como ando apinhada de trabalhos para fazer (curiosamente, baseados em livros), a última coisa em que penso é no meu dever literário e intelectual. Adiante.

Cartas a Luísa é um extraordinário ensaio social (se é que tal coisa existe, mas também não chega a ser filosófico) sobre o século XIX. É bem verdade que, na introdução, a saudosa escritora avisa logo o leitor de que o livro é sobre a condição feminina – e, quem não for fã do assunto, pode logo aproveitar para ler outro livro. Porém, na minha modesta e desentendida opinião, Maria Amália Vaz de Carvalho discorre mais sobre o século em geral do que propriamente a condição feminina.

Por isso que o livro é interessantíssimo: um retrato do século XIX (que também inclui a cultura, o que é de se honrar) feito por quem viveu na época. Decerto que o livro é apenas o que a escritora pensa do século XIX, é a sua opinião – mas é regra geral que os grandes intelectuais tenham sempre razão, portanto podemos confiar no seu testemunho.

No que toca propriamente à condição feminina, a autora defende alguns aspectos que hoje, aos olhos do bastante evoluído século XXI, consideramos plenamente imbecis e sem sentido. Por exemplo, a autora defende que a mulher deve ser submissa ao seu marido ou que ainda não deve envolver-se em política, que esse era um mundo de homens.

A partir daqui vemos como a condição social da mulher alterou bastante mas, igualmente, vemos como muitos homens, nos dias que por hoje passam, acreditam nestas premissas. E, meus caros, quem lê muito e sofregamente, acto próprio de pessoas cultas, já se deve ter apercebido que a mentalidade humana nunca muda.

No mais, a escrita e linguagem de Maria Amália Vaz de Carvalho é bastante apropriada para o tipo de livro que é. Primeiro, são cartas dedicadas a Luísa, uma amiga sua, pelo que a linguagem é coloquial (tendo, mesmo assim, os seus toques de requinte); segundo, por ser um ensaio, a linguagem é clara. Escusado será dizer que a autora argumenta de uma forma excelente.

Nota-se, à medida que se vai lendo o livro, a instrução da autora, que dedica grandes parágrafos à análise de Balzac e é admiradora de Rousseau (por curiosidade, homem que Dostoiévski não apreciava).

Em suma, este é um livro óptimo para quem quer conhecer a beleza que é o século XIX e, também, para quem quer saber o que uma mulher pensa sobre a sua condição social. 
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