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Oliver Twist, de Charles Dickens

01/10/2012

Decidi não continuar os resumos capítulo a capítulo, pois estava a tornar-se demasiado moroso fazê-los (e creio que também a lê-los). Assim, o "projecto" fica descontinuado, seguindo-se, agora, o resumo geral da narrativa.

O seguinte resumo contém spoilers.

Oliver Twist. Imagem daqui.

Oliver Twist é considerado uma obra-prima de Charles Dickens, afamado escritor inglês do não menos afamado século XIX e, se alguém não conhece a história do órfão pelo livro, conhece-a pelos filmes (exactamente o que acontece com Um Cântico de Natal).

O objectivo de Dickens, ao escrever Oliver Twist, foi somente retratar os antros criminosos de Londres de uma maneira fiel à realidade, de maneira a alertar os seus leitores para não acreditarem nas definições de criminosos que eram descritos como heróis românticos e justiceiros.

Pareceu-me que reunir um grupo de pessoas como na verdade existiam no mundo do crime; descrevê-las em toda a sua deformidade, em toda a sua desgraça e em toda a esquálida miséria das suas vidas; mostrá-las como realmente eram, sempre a esconder-se, receosas, nos mais imundos caminhos da vida, e com a negra, grande e pavorosa forca a fechar-lhes a perspectiva, fosse para onde fossem que virasse, pareceu-me, dizia, que fazê-lo seria tentar realizar algo necessário e que constituiria um serviço para a sociedade. E fi-lo o melhor que pude.

Oliver é nascido e criado num asilo de pobres, onde é maltratado e, depois é levado para ser aprendiz na casa do cangalheiro da paróquia – isto porque cometeu a ousadia de, no asilo, pedir mais comida (comida essa que não passava de papas feitas com mais água que centeio) – função que lhe coube pela realização de um sorteio entre os seus companheiros.

Já na casa do cangalheiro, Oliver é novamente maltratado, desta vez por um outro aprendiz, Noah Claypole. Quando este insulta a sua mãe, Oliver dá-lhe porrada, enfurecido; Noah chama pela patroa e pela sua criada, dizendo que Oliver o tentara matar, pelo que as senhoras o enchem de socos e arranhões, enquanto que Noah vai chamar o Sr. Bumble, o bedel da paróquia.

O Sr. Bumble chega e, pouco depois, o cangalheiro regressa a casa, pelo que é “obrigado” pelas lágrimas da sua esposa a açoitar Oliver – que o fez, mas não sem uns resquícios de pena, já que sentia simpatia pelo rapaz.

Oliver, nesse dia, decide fugir. Não sabe para onde ir, até que se senta a descansar ao lado de um marco quilométrico, que indicava a distância daquele lugar até Londres (112km) – decidiu, então, pôr os pés a caminho até à grande cidade.

Numa cidadezinha perto da capital chamada Barnet, Oliver encontra o Trapaceiro, que lhe promete um lar onde dormir, na casa de um senhor idoso respeitável. Oliver parece não confiar no seu mais recente conhecimento – mas a verdade é que não poderia recusar a sua proposta.

Os dois chegam a Londres e Oliver é apresentado a Fagin, um “judeu muito velho e enrugado, cujo rosto repulsivo e de aspecto vil estava obscurecido por uma quantidade de emaranhado cabelo ruivo”.

Todas as manhãs, Oliver ficava a assistir ao joguinho feito entre Fagin e os seus pupilos: estes teriam que retirar do bolso do velho, sem que ele se apercebesse, alguns pertences. A certo ponto, Oliver também começou a jogar, mas não sabia qual o intuito daquilo.

Certo dia, saiu com o Trapaceiro e Bates. Para resumir um episódio longo: os outros dois, depois de roubarem um senhor numa livraria, fugiram e Oliver ficou para trás. O senhor, ao reparar que tinha sido roubado, olhou para trás e viu Oliver, pensando que foi ele o culpado.

Após uma perseguição e depois de Oliver ter sido preso, o senhor, chamado Brownlow, tendo a certeza da inocência do rapaz, levou-o para sua casa, já que este se encontrava doente. Lá, Oliver é bem tratado e acolhido, e a sua semelhança com um retrato de uma senhora intriga o Sr. Brownlow.

Quando Oliver recupera da sua doença, é-lhe confiada uma tarefa: devolver uns livros à livraria – tarefa que Oliver não cumpre, já que é levado por Nancy (uma das pupilas de Fagin) à casa do judeu. Nancy arrepende-se do acto, pois percebe que meteu um rapaz bondoso e de bom coração numa vida de crime.

Passado pouco tempo, Oliver, por ser pequeno e de corpo franzino, é levado para um assalto a uma casa, juntamente com Bill Sikes e um comparsa seu. Acontece que, ao entrar pela janela e, ao tentar avisar os donos da casa do que se estava a passar (mesmo pondo a sua vida em risco perante a fúria de Sikes), Oliver foi alvejado pelo mordomo da casa.

Sikes e o seu comparsa fogem com Oliver, mas deixam-no pelo caminho. Ao acordar na manhã seguinte ensanguentado e com dores, Oliver decide pedir socorro à casa mais próxima, que era precisamente a casa que tentaram assaltar.

É socorrido, devido à bondade de Rose Maylie e da sua tia, que ouvem e ficam impressionadas com a história de Oliver, tal como aconteceu com o médico e amigo da família. A partir daqui, Oliver nunca mais se encontrará no antro criminoso em que esteve.

Fagin e Monks (um dos seus comparsas) tentam encontrar Oliver – e têm as suas razões para tal – chegando inclusive a lograr o seu objectivo, mas não conseguem o rapaz de volta. Nestes entretantos, Oliver quer ver o Sr. Brownlow, o que não acontece porque este foi de viagem.

Nancy ouve uma conversa entre Fagin e Monks a respeito de Oliver, e conta essa mesma conversa a Rose. Nessa conversa, Monks diz a Fagin que Oliver é o rapaz que ele procurava, o seu irmão mais novo (na verdade, meio-irmão) e que o judeu receberia muito dinheiro se fizesse dele ladrão – e o nome de Rose Maylie é mencionado no diálogo.

Rose não sabe o que fazer com essas informações, mas quando Oliver vê o Sr. Brownlow, já sabe com quem deve falar do assunto. Vão ter com Nancy à Ponte de Londres e o Sr. Brownlow fica a saber mais pormenores da história que os moveu até ali e onde encontrar Monks.

Nancy foi seguida por Noah Claypole, a pedido de Fagin, que se juntou aos pupilos do judeu depois de ter roubado o cangalheiro. Noah relata depois a conversa de Nancy a Fagin, relatando-a outra vez à frente de Bill Sikes. Sikes, num acesso de fúria, acaba por matar Nancy.

O Sr. Brownlow tomou as devidas providências para que a rede de criminosos fosse apanhada e sofresse as consequências – o que foi que aconteceu. Bill Sikes morreu enforcado ao tentar fugir, Fagin foi condenado à forca, Bates tentou levar uma vida decente, Monks foi para o degredo bem como grande parte dos pupilos de Fagin; o Trapaceiro já tinha sido preso antes.

Monks era irmão de Oliver da parte do pai, que tinha deixado herança aos filhos e, se Oliver tivesse enveredado por uma vida criminosa, deixaria de ter direito à sua parte – por isso a resolução do seu irmão mais velho em torná-lo criminoso.

O pai de Oliver era amigo do Sr. Brownlow e, antes de partir numa viagem em que adoeceu e morreu, deixando solteira a sua companheira, confiou ao seu amigo um retrato dela – pelo que o Sr. Brownlow reconheceu a expressão Oliver.

O Sr. Brownlow adoptou Oliver e foi viver numa casa de campo, ao lado da casa de Rose Maylie e de sua tia. A herança de Oliver foi repartida a meio com o seu irmão, que tentou levar uma vida não criminosa no Novo Mundo, porém acabou por voltar ao seu estilo de vida anterior e foi preso, morrendo doente na prisão.

Ninguém pode negar a magistralidade da escrita de Dickens, principalmente neste livro. A maneira como a desgraça é descrita, até nos seus pormenores mais ínfimos, os retratos do crime, feito a sangue-frio, a lei do mais forte, a vingança, a luta pela sobrevivência, os esconderijos, a sordidez das ruas escuras e mal habitadas da capital inglesa... tudo isto a par com o jovem Oliver, uma criança bondosa, inocente incapaz de impingir o mais pequeno mal a quem quer que seja, uma criança que também é grata e luta pela sua vida, chora as suas calamidades, mas que no fim acaba por ser feliz.

Compreende-se o final feliz desta história (e a forca ou o degredo para os criminosos). Creio que seja impossível imaginar Oliver acabar na miséria, se fosse novamente raptado dos seus benevolentes amigos, se os criminosos não pagassem pelos seus crimes – arrisco-me a dizer que, assim, a história acabaria por ser odiada.

As possíveis lágrimas que poderão cair ao ler este livro (porque é um livro emocionante), certamente serão lágrimas de contentamento e de apaziguamento – em sintonia com a felicidade merecida de Oliver, que tanto sofreu, que tanto lutou por a conseguir.
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