Existe um dito popular que reza que o comum mortal tem a obrigação de fazer limonada com os limões que a vida lhe dá. Por outras palavras, tem de se conformar com o seu destino, já que o destino é mesmo assim, sendo teimoso, não muda.
Não há exemplo mais perfeito dessa resignação com a vida do que Robinson Crusoe (que lhe chama carinhosamente Providência), personagem criada por Daniel Defoe para um romance baseado em factos reais.
Em inúmeras leituras que fiz, nunca me apareceu pela frente uma personagem que se conformasse de forma plena e completa com a vida – ou Providência, ou vontade de Deus, ou destino, etc.. O que espanta em Robinson Crusoe é o seu olhar sempre positivo e otimista (repito: sempre) sobre o que lhe acontece.
Chega, inclusive, a fazer uma tabela “comparando os bens e os males, estabelecendo uma espécie de dever e haver; de um lado os prazeres que desfrutava, e do outro os males que sofria”.
A dita tabela contrapunha os males e os bens, sendo que estes últimos advinham exclusivamente das suas misérias. Ou seja, Crusoe pôs em prática a teoria condescendente do “há males que vêm por bem” – se bem que, para nós, pessoas pessimistas por natureza, não há bem nenhum, nem deleite, nem alegria, em permanecer 28 anos numa ilha. Eis a dita tabela:
Podemos daqui reter que Robinson Crusoe apreciava bastante o facto de estar vivo. E nós aqui, descontentes por ninharias e bagatelas, como o tempo estar mau ou termos engordado! O marinheiro arranja sempre maneira de ultrapassar as adversidades (por exemplo, chegou a fazer pão).
Sobretudo, é otimista em relação a tudo o que lhe acontece, apesar de não alimentar qualquer esperança de vir a sair da ilha. Em boa verdade, não havia nada que ele pudesse fazer, a não ser ir sobrevivendo com os limões amargos que a Providência lhe fornecia.
Robinson Crusoe é um verdadeiro modelo de existência a seguir: não podemos mudar algumas coisas que estão no nosso caminho (boas ou más, mas aqui interessam-nos as más), porém podemos extrair algo que seja bom desses males que nos calham.
*Primeiro texto que fiz seguindo as novas regras de ortografia.